Nos últimos anos, o perfil do idoso brasileiro tem passado por transformações significativas, o que afeta diretamente as tendências no turismo nacional. Entre 2010 e 2022, a população idosa no Brasil aumentou em aproximadamente um milhão de pessoas a cada ano. Esse crescimento é refletido no acesso aprimorado a tecnologias de saúde e bem-estar, permitindo que muitos idosos vivam mais e busquem aproveitar a vida de maneira mais intensa. Essas mudanças impactam não apenas a previdência social, mas também a maneira como os idosos viajam e cuidam da sua qualidade de vida.
Uma pesquisa recente realizada pela Booking.com, com a participação de mais de 27 mil pessoas em 33 países, incluindo um grande número de brasileiros, revela que as férias estão se transformando em uma busca por experiências mais significativas e não apenas por momentos de descanso. De acordo com o estudo, 78% dos brasileiros entrevistados estão interessados em participar de retiros de longevidade, que oferecem abordagens alternativas aos tradicionais roteiros de bem-estar. Esses retiros visam promover não apenas relaxamento temporário, mas uma vida mais longa e saudável.
Entre as práticas que esses viajantes estão buscando, destacam-se terapias inovadoras. A pesquisa aponta que 65% dos brasileiros consideram atrativas técnicas como vibração corporal, 60% se mostram interessados na luz vermelha, 52% na crioterapia e 50% no tratamento com células-tronco. Além disso, 87% dos viajantes desejam aprender hábitos de bem-estar que possam incorporar em sua rotina diária, como a ingestão cronometrada de café e terapia intravenosa.
O levantamento também indica que os brasileiros estão entre os que mais investiriam em viagens dedicadas ao prolongamento da vida e bem-estar, com 76% dispostos a pagar por esse tipo de experiência. Essa cifra coloca o Brasil entre os países que mais valorizam esse conceito, atrás apenas da Tailândia, Índia, Emirados Árabes Unidos e Colômbia.
A pesquisa destaca uma diversidade de interesses entre os idosos, especialmente entre os “baby boomers”, que são aqueles que hoje têm 60 anos ou mais. Este grupo não está disposto a ficar parado; quase 20% deles buscam aventuras que os tirem da zona de conforto. Os interesses vão desde passeios a cavalo até escaladas em montanhas, expedições em rios e até camping na Antártida. Os mais aventureiros sonham em praticar mergulho em cavernas, paraquedismo e surfe em vulcões.
Dada essa complexidade nas preferências de viagem, Gleisson Rubin, diretor de Previdência do Instituto de Longevidade, enfatiza que não existe mais um padrão único para o envelhecimento no Brasil. Essa diversidade de interesses demanda atenção especial dos setores de turismo e serviços, que precisam se adaptar para atender uma população idosa crescente e com necessidades variadas.
Além da disposição para viajar, a preparação financeira é fundamental. Guilherme Hinrichsen, vice-presidente da Icatu Seguros, alerta que com a vida mais longa, o planejamento financeiro deve incluir a fase de “desacumulação”, que é quando a pessoa começa a utilizar o capital acumulado para garantir uma renda e realizar sonhos, como viajar.
Uma maneira de garantir essa renda é resgatar mensalmente uma parte do capital, funcionando como um “salário” durante os anos de descanso. Além disso, existem planos oferecidos pelas seguradoras que garantem pagamentos mensais fixos, seja com renda vitalícia ou por um período estipulado, como 15 anos. Com isso, a seguradora assume o risco de que o cliente viva além do esperado, oferecendo segurança financeira e tranquilidade para aproveitar essa fase da vida.
Essas iniciativas são cruciais, pois a expectativa de vida e o momento da aposentadoria são incertos. O planejamento cuidadoso pode assegurar que os idosos não apenas desfrutem de uma aposentadoria confortável, mas também possam viajar e aproveitar a vida de forma satisfatória.
