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Envelhecer com mais saúde: estudo revela riscos e soluções

A expectativa de vida no Brasil deve alcançar 77,8 anos até 2030, segundo dados do IBGE. No entanto, viver mais anos não significa que teremos uma vida com qualidade. Um estudo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) aponta que a diferença entre a duração total da vida e o tempo que conseguimos viver sem doenças é crescente. Essa diferença, chamada de lacuna entre “healthspan” e “lifespan”, já é de 9,6 anos globalmente e pode chegar a 16 anos até 2035.

Esse aumento na lacuna pode comprometer a sustentabilidade do sistema de saúde no Brasil. A pesquisa também revela que a obesidade, que atualmente representa quase 10% dos gastos com saúde suplementar, pode afetar 46% dos beneficiários até 2030. Isso indicaria que a obesidade consumiria mais da metade das despesas de saúde. O custo médio por beneficiário, que em 2020 era de R$ 2,2 mil, pode subir para R$ 3,1 mil até 2030, um aumento de 42% em dez anos. Essa elevação está muito acima do crescimento previsto do PIB per capita, que é de 7,7%. Além disso, medidas preventivas poderiam resultar em uma economia de até R$ 45 bilhões por ano até 2035.

José Cechin, superintendente executivo do IESS, destaca que o setor de saúde suplementar enfrentará dificuldades para se manter, a menos que haja um investimento maior em prevenção e cuidados de longo prazo. O estudo sugere que o setor precisa passar por uma transformação baseada em quatro pilares: medicina preventiva, inovação tecnológica, cuidado que valoriza os resultados e sustentabilidade sistêmica. Essas mudanças podem envolver a utilização de telessaúde, inteligência artificial e a reorganização do espaço urbano.

Os dados obtidos entre 2008 e 2023 revelam tendências preocupantes entre os beneficiários da saúde suplementar, como o aumento da obesidade, que passou de 12,5% para 21,9%, e do diabetes, que aumentou de 5,8% para 9,8%. A hipertensão se manteve em 26,3%. Além disso, 60,9% da população com plano de saúde já apresenta excesso de peso. Apesar da redução do tabagismo, o sedentarismo permanece elevado e práticas alimentares saudáveis, como o consumo de feijão, estão em queda.

O estudo também aponta desigualdades significativas. As mulheres, por exemplo, são responsáveis por 60% dos custos relacionados à obesidade e apresentam mais anos de vida com problemas de saúde. Mulheres negras são especialmente vulneráveis a doenças crônicas e mortalidade materna. Há também diferenças regionais na expectativa de vida saudável, que variam em até 6 anos entre as regiões Sul/Sudeste e Norte/Nordeste do Brasil.

Esses dados indicam que o modelo atual de saúde, focado em tratamentos curativos, não atende às necessidades da população em termos de saúde pública. O sistema ainda é baseado em um modelo de remuneração por procedimentos, o que gera custos elevados e fragmentação no tratamento de doenças crônicas. É essencial que o Brasil mude para um modelo proativo e focado em valor, priorizando a prevenção e a promoção da saúde, para evitar uma situação semelhante a países onde a longevidade aumentou, mas a qualidade de vida não seguiu o mesmo ritmo, resultando em um sistema de saúde à beira do colapso financeiro.

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