Recuperação judicial no agronegócio cresce 32% no 2º tri

O número de pedidos de recuperação judicial no agronegócio brasileiro aumentou significativamente no segundo trimestre de 2024, com um crescimento de 31,7% em comparação ao mesmo período do ano anterior. No total, foram registrados 565 pedidos de recuperação, de acordo com um estudo da Serasa Experian. Este aumento reflete os problemas financeiros enfrentados pelos produtores rurais, principalmente devido às margens de lucro reduzidas. Essa situação se agravou desde a safra 2023/2024, que teve uma produção abaixo do esperado e deixou muitos agricultores em dificuldades.
Os pedidos são contabilizados tanto de agricultores individuais quanto de empresas do setor. Dos 565 requerimentos, 243 foram feitos por empresas agrícolas, um número que mais que dobrou em relação ao segundo trimestre do ano passado. Entre os agricultores individuais, foram 220 solicitações, o que representa um aumento de 2,8% em comparação ao mesmo período de 2023.
Esta mudança no perfil dos pedidos chamou a atenção, pois normalmente os agricultores que possuem empresas são considerados mais organizados e com maior capacidade de gestão. Também foi registrado um aumento na quantidade de pedidos de recuperação entre empresas de fornecimento, como distribuidoras de insumos, que registraram 102 solicitações no segundo trimestre, um crescimento de 8,5% em relação ao ano anterior.
O cenário triste no agronegócio não apenas reflete a dificuldade dos produtores, mas também impacta as instituições financeiras. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou que o governo está avaliando a situação dos pedidos de recuperação judicial e suspectou que pode haver “abuso” desse mecanismo por certos setores. Embora não tenha mencionado especificamente o agronegócio, ele ressaltou que a inadimplência aumentou, influenciando o desempenho de bancos públicos que costumam financiar o setor, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.
Apesar de resultados positivos na economia em 2024, impulsionados por uma nova safra, a realidade dos produtores é preocupante. Além das margens reduzidas, eles enfrentam custos crescentes com insumos e juros elevados, o que tem dificultado a rentabilidade. A situação se torna ainda mais complicada à medida que a nova temporada de plantio da soja se aproxima, começando em meados deste mês, mas com incertezas sobre a capacidade de pagar as contas.
As previsões meteorológicas são favoráveis, e a Conab, estatal vinculada ao Ministério da Agricultura, estima um pequeno aumento de 1% na produção de grãos para a safra 2025/2026, com possibilidade de novos recordes. No entanto, a tendência de preços em queda e o aumento contínuo de custos podem levar a um agravamento das dificuldades financeiras no setor, gerando ainda mais preocupações entre os produtores. Marion Kompier, que gerencia uma grande fazenda em Goiás, expressou sua preocupação sobre a viabilidade financeira da atividade, questionando se conseguirão equilibrar as contas e obter lucro.