O paracetamol, também conhecido como acetaminofeno, é um dos analgésicos mais comuns usados por gestantes em todo o mundo. Aproximadamente metade das mulheres grávidas recorre a esse medicamento para aliviar dores e controlar febres. Recentemente, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levantou preocupações sobre uma possível relação entre o uso do paracetamol durante a gravidez e o aumento dos casos de autismo.
Na avaliação de vários especialistas em autismo, não há evidências suficientes que comprovem a ligação entre o uso de paracetamol e o desenvolvimento do transtorno. O aumento na prevalência do autismo é uma preocupação em muitos países, mas pesquisadores alertam que associar o medicamento a essa condição pode desviar a atenção de questões mais complexas.
James Cusack, diretor da Autistica, uma instituição britânica voltada para a pesquisa e defesa de direitos de pessoas autistas, afirma que não existem provas concretas de que o uso do paracetamol pelas mães cause autismo. Ele ressalta que quaisquer associações observadas são muito pequenas e que a busca por respostas simples para problemas complexos não contribui para o entendimento da questão.
A assessora de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, se manifestou sobre a discussão, mas evitou dar detalhes sobre convicções específicas do governo. Ela mencionou que a administração estava empenhada em tratar as causas fundamentais de condições crônicas e doenças.
Em termos de evidência científica, estudiosos afirmam que as pesquisas mais rigorosas não demonstram uma relação direta entre o uso do paracetamol durante a gravidez e o autismo. Helen Tager-Flusberg, psicóloga da Universidade de Boston, destaca que estudos bem controlados têm menor probabilidade de identificar até mesmo um pequeno risco. Portanto, muitos especialistas acreditam que o consumo do medicamento não contribui para o desenvolvimento do autismo.
Uma das dificuldades em estabelecer um vínculo claro entre o paracetamol e o autismo é a falta de registros de uso do medicamento, que é vendido sem receita. Muitas vezes, os pesquisadores precisam se basear em relatos pessoais, que podem não ser precisos. Além disso, mulheres que utilizam o paracetamol durante a gestação frequentemente apresentam problemas de saúde que podem influenciar o risco de autismo, como infecções ou outras condições.
Uma investigação abrangente realizada na Suécia, que analisou dados de aproximadamente 2,5 milhões de crianças nascidas entre 1995 e 2019, revelou que apenas 1,42% das crianças expostas ao paracetamol em gestação foram diagnosticadas com autismo, comparado a 1,33% das que não tiveram essa exposição. A diferença é considerada muito pequena. Estudos com irmãos, onde um foi exposto ao medicamento e o outro não, também não mostraram associações que pudessem ser atribuídas ao uso do paracetamol.
Além deste estudo sueco, uma pesquisa feita no Japão com mais de 200 mil crianças também não encontrou evidências de ligação entre o uso do paracetamol por gestantes e o autismo. Embora algumas revisões de literatura tenham sugerido uma associação, especialistas ressaltam que não há estudos robustos que comprovem uma relação causal e que evidências contrárias geralmente carecem de suportes experimentais adequados.
De acordo com um porta-voz da Kenvue Inc., fabricante do Tylenol, a ciência independente e bem fundamentada esclarece que o uso do paracetamol não causa autismo.