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Foto revela contradições sobre o ‘suicídio’ de Vladimir Herzog

O Assassinato de Vladimir Herzog e seu Legado

Vladimir Herzog, um jornalista e diretor da TV Cultura, foi convocado a comparecer ao DOI-CODI, a temida unidade de repressão do Exército durante a ditadura militar no Brasil. No dia 25 de outubro de 1975, Herzog chegou sozinho para depor sobre suas supostas conexões com o Partido Comunista Brasileiro, que na época estava banido. Amizades o chamavam de Vlado, e ele sempre negou qualquer envolvimento em atividades ilegais.

Durante seu depoimento, Herzog foi brutalmente torturado e assassinado pelos militares. Eles tentaram apresentar a cena do crime como um suicídio, mas as evidências da violência ficaram evidentes na famosa foto de seu corpo, que se transformou em um símbolo da repressão brutal durante a ditadura. O caso Herzog é lembrado como um dos mais chocantes do período autoritário no país.

Neste ano, diversas atividades marcam os 50 anos de sua morte. Programas na TV Cultura, incluindo uma entrevista com seu filho Ivo Herzog no programa “Roda Viva”, e a estreia de um novo documentário na Mostra de Cinema de São Paulo são parte das homenagens. Além disso, haverá atos em memória de Herzog na Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, e na Catedral da Sé, em São Paulo.

Herzog foi assassinado em um contexto de divisão dentro das Forças Armadas. Em 1975, as principais organizações de luta armada estavam em declínio, e o regime militar estava particularmente focado no combate ao PCB. Naquele ano, vários indivíduos considerados comunistas foram presos, incluindo membros da polícia militar.

Nascido na antiga Iugoslávia e naturalizado no Brasil, Vlado era casado e pai de duas crianças. Ele se dedicava principalmente à cobertura de cultura e artes, sem envolvimento em clandestinidade. Sua nomeação para a TV Cultura, em setembro de 1975, gerou revolta entre políticos aliados do regime, demonstrando a tensão existente nas esferas do poder.

No dia anterior à sua morte, Herzog foi alvo de uma tentativa de prisão em sua emissora, mas acabou sendo convidado a depor no DOI-CODI. Ao chegar, ele foi mantido em uma sala com outros jornalistas, onde escutou um torturador ordenar a utilização de uma máquina de choque elétrico durante seu interrogatório. Para abafar os gritos, o som de um rádio foi alto, criando um cenário de terror.

Na versão oficial, Herzog teria se enforcado com um cinto de seu macacão, mas as evidências contradizem essa narrativa, já que seu corpo apresentava sinais de tortura evidentes. O fotógrafo que registrou a cena denunciou anos depois que estava convencido de que se tratava de um homicídio.

Herzog, por ser judeu, deveria ser enterrado em local afastado, se fosse realmente um suicídio. Contudo, ao perceber as marcas de tortura em seu corpo, o rabino Henry Sobel se recusou a permitir que ele fosse enterrado na ala dos suicidas no Cemitério Israelita do Butantã, desafiando abertamente o regime.

Essa atitude, junto com um ato ecumênico organizado por Sobel, o arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo, e o pastor James Wright, reuniu mais de 8 mil pessoas em protesto contra a repressão.

A viúva de Herzog, Clarice, processou o Estado, e em 1978, um juiz responsabilizou o governo pela morte de seu marido, reafirmando a responsabilidade do Estado pela segurança de quem estava sob custódia. Em 2012, o registro de óbito de Herzog foi alterado para refletir que sua morte foi resultado de tortura. Em 2018, o Brasil foi condenado por negligência na investigação de seu assassinato pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.

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