António Guterres não responde a mudanças globais importantes

António Guterres assumiu o cargo de secretário-geral da ONU em 1º de janeiro de 2017, durante uma fase em que o cenário político mundial estava em transformação. Naquela época, Barack Obama era o presidente dos Estados Unidos, e Hillary Clinton era a favorita para sucedê-lo. Havia um amplo apoio americano a uma ordem global baseada em regras. Com a chegada de Guterres, Donald Trump estava prestes a assumir a presidência, trazendo consigo uma postura que se opunha a muitos dos princípios defendidos pela ONU.
Até agora, a avaliação do legado de Guterres é mista. Ele enfrenta críticas por não ter conseguido aprovar resoluções significativas e por ser visto como excessivamente respeitoso com os países mais poderosos. Especialistas apontam que sua atuação pode ser considerada insatisfatória. Um professor da Universidade de Nova York afirmou que, assim como outros secretários-gerais, Guterres não conseguiu se destacar, impressionando pouco em suas ações.
Uma das decisões controversas de Guterres foi sua visita a Moscou no início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia. Ele se encontrou com o presidente Vladimir Putin antes de se reunir com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Essa sequência de encontros foi vista como estranha, especialmente porque a Rússia havia desrespeitado princípios fundamentais da Carta da ONU.
A falta de influência de Guterres em conflitos como os da Ucrânia e Gaza está impactando sua capacidade de atuar em outras situações de crise. Especialistas em crises internacionais alertam que se o secretário-geral não tem peso em guerras amplamente divulgadas, sua influência em locais como Congo ou Somália se torna ainda mais questionável. Durante seu mandado, Guterres também lutou para lidar com os conflitos no Iémen, na Síria e em Mianmar, que não são diretamente ligados às rivalidades entre grandes potências. As crises em Gaza, Ucrânia e Sudão foram particularmente desafiadoras e suas tentativas de chamar a atenção para a necessidade de cessar-fogo durante a pandemia não tiveram impacto.
Além disso, os apelos de Guterres para que os membros da ONU cumprissem suas obrigações financeiras foram amplamente ignorados. O Conselho de Segurança, o órgão mais poderoso da ONU, tem permanecido paralisado na maior parte de seu tempo no cargo. Guterres reconheceu a necessidade de reformar a organização e lançou uma campanha para simplificar suas agências e processos de decisão. O futuro dessas iniciativas ficará nas mãos de seu sucessor, uma vez que Guterres se aposentará no próximo ano.