O Dia Mundial da Saúde é comemorado hoje, 7 de abril, e coincide com o início da campanha nacional de vacinação contra a gripe no Brasil. O Ministério da Saúde estabeleceu a meta de imunizar 90% dos grupos prioritários, incluindo crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes e idosos. Essa intenção é crucial, uma vez que no ano anterior apenas 50,1% dos idosos foram vacinados contra a influenza, conforme dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe).
No ano de 2024, a baixa cobertura vacinal resultou em consequências alarmantes: as internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) provocadas pela gripe aumentaram em 189% entre os idosos, com um crescimento de 157% nos óbitos. A taxa de letalidade atingiu 21,7%, indicando que uma em cada cinco pessoas acima de 60 anos diagnosticadas com complicações da doença não sobreviveu.
Segundo a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas, essa é a primeira vez na história em que a porcentagem de idosos vacinados contra a gripe no Brasil é inferior à de gestantes e crianças. “Sempre foi um grupo de fácil adesão à vacinação, mas, em 2024, essa tendência se inverteu”, afirmou durante evento realizado pela Sanofi em São Paulo no final de março. Richtmann alerta que o vírus da gripe pode ocasionar comprometimentos em diversos órgãos e facilitar infecções bacterianas, aumentando o risco de complicações fatais.
A relevância das campanhas de vacinação se reflete na longevidade da população. Ao longo do século XX, as vacinas promoveram um avanço significativo na expectativa de vida, erradicando doenças como a varíola e reduzindo a incidência de outras infecções graves, como poliomielite, sarampo e meningite. Para a médica cirurgiã e pesquisadora em medicina regenerativa Andréia Antoniolli, o impacto das vacinas é um divisor de águas na história da medicina. Ela ressalta que muitas dessas doenças têm alto potencial de contágio e deixaram sequelas devastadoras.
Andréia destaca que, embora o desenvolvimento das vacinas tenha contribuído para aumentar a expectativa de vida, o sistema imunológico enfrenta desafios. “Hábitos de vida modernos têm contribuído para seu enfraquecimento, levando ao envelhecimento biológico acelerado e inflamações crônicas”, explica. Essas condições prejudicam o funcionamento das defesas do organismo.
Imunossenescência e suas Implicações
O processo de declínio da função imunológica ao longo do tempo, conhecido como imunossenescência, afeta negativamente a eficácia vacinal, especialmente para aqueles que mais necessitam de proteção. É nessa área que a medicina regenerativa se destaca, atuando no rejuvenescimento celular e na restauração funcional do sistema imune, o que pode transformar a prevenção de doenças em idosos.
Andréia explica que terapias com base em células-tronco e compostos geroprotetores (substances que previnem ou reverter o envelhecimento celular) têm demonstrado resultados promissores. “A medicina regenerativa pode potencializar os efeitos das vacinas ao melhorar as funções do sistema imunológico, especialmente entre os idosos,” afirma.
Ela acrescenta que já existem estudos indicando uma resposta imune menos eficiente em pessoas mais velhas, devido a alterações nos centros germinativos—estruturas que produzem anticorpos de alta qualidade. “Os efeitos dependentes da idade sobre esses centros são reversíveis, desde que sejam realizados os reparos celulares apropriados”, expõe Andréia.
Além disso, a medicina regenerativa traz melhorias significativas por meio da biotecnologia. O uso de biomateriais para otimizar a entrega de antígenos e outros elementos essenciais para uma boa resposta imunológica é um dos avanços notáveis nesse campo. “A medicina regenerativa ajuda a ‘consertar’ nossas próprias células do sistema imunológico e pode ainda utilizar biotecnologia, como vetores virais, para aumentar a eficiência das vacinas,” diz Andréia. Dessa forma, as células T podem ser geneticamente modificadas para identificar e combater com precisão as células tumorais e agentes infecciosos.
Andréia observa que a evolução dessas tecnologias torna as terapias mais seguras e eficazes. Com os avanços na medicina regenerativa, há a expectativa de que a resposta às vacinas seja ampliada, possibilitando até a redução da frequência necessária de imunização.
Em suma, o foco deve ser o fortalecimento do sistema imunológico como estratégia de saúde e longevidade. “Manter o sistema imunológico jovem e eficiente é crucial para defender-se de doenças infecciosas, inflamatórias e câncer. A prioridade deve ser preservar as células-tronco com capacidades de reparo e regeneração para garantir a eficácia do sistema imunológico,” concluiu Andréia.