Uma pesquisa recente, publicada no dia 7 de outubro no periódico JAMA Neurology, revela que medicamentos usados para tratamento de diabetes e controle de peso, como Ozempic e Wegovy, podem reduzir o risco de desenvolvimento de demência. O estudo analisou dados de 26 estudos clínicos anteriores, envolvendo um total de mais de 160 mil participantes, para investigar a eficácia dos medicamentos da classe GLP-1 na prevenção da demência.
Pesquisas anteriores, baseadas em prontuários médicos, já haviam sugerido que substâncias como semaglutida (presente no Ozempic e no Wegovy), liraglutida e exenatida estavam associadas a uma leve diminuição do risco de demência.
Cientistas da Universidade de Galway, na Irlanda, conduziram uma análise que se concentrou em testes randomizados. Os medicamentos foram administrados a indivíduos com diabetes tipo 2 que ainda não apresentavam diagnóstico de demência ou comprometimento cognitivo, comparando os efeitos dos tratamentos com um grupo que recebeu placebo.
Os resultados indicam que o uso de medicamentos GLP-1 pode levar a uma redução significativa do risco de demência durante o período de acompanhamento dos estudos, que foi de no mínimo seis meses.
Contexto da Pesquisa
A comunidade médica, até recentemente, acreditava que o controle da glicemia poderia oferecer uma forma de proteção contra a demência, uma vez que a diabetes é um fator de risco conhecido para a condição. Um estudo da Universidade da Flórida demonstrou que inibidores de SGLT2, que atuam ao promover a eliminação da glicose pelos rins, poderiam reduzir o risco de Alzheimer.
No entanto, com a implementação de um grupo de controle com placebo, a equipe liderada por Catriona Reddin concluiu que os inibidores de SGLT2 não têm relação com a redução do risco de demência, indicando que os benefícios dos medicamentos GLP-1 vão além do simples controle glicêmico.
O mecanismo pelo qual esses medicamentos atuam na redução da inflamação (incluindo a neuroinflamação, reconhecida como uma das causas da demência) ainda não está totalmente esclarecido. Reddin afirma que, ao reduzir a inflamação crônica, os medicamentos GLP-1 podem desacelerar a morte de células cerebrais e ainda melhorar a proteção cardiovascular, ajudando a evitar problemas como acúmulo de placas nas artérias e hipertensão, também fatores de risco para demência.
Entretanto, ainda não se considera viável o tratamento de pacientes com risco elevado de demência unicamente com medicamentos GLP-1 para esse fim, sendo necessárias mais pesquisas e um acompanhamento prolongado.
A cientista Reddin enfatizou a importância de realizar ensaios de grande escala para investigar os efeitos dos tratamentos hipoglicemiantes na demência e no declínio cognitivo.