O fungo Cordyceps sinensis ganhou notoriedade como o antagonista da série da HBO, “The Last of Us“, que terá sua segunda temporada estreando neste domingo (13). Na narrativa, o fungo invade organismos humanos, destrói células e transforma as vítimas em criaturas hostis. Contudo, na realidade, este organismo apresenta utilidades benéficas à saúde. Com reconhecidas propriedades medicinais, o Cordyceps sinensis se destaca no combate ao câncer, possui efeitos afrodisíacos e diversas outras aplicações. Sua raridade reflete-se no preço: 450 gramas do fungo podem custar até US$ 136 mil, um valor quase duas vezes superior à cotação atual do Bitcoin (BTC).
Esse fungo, que foi registrado pela primeira vez em 1694 na China, é valorizado por sua gama de compostos com capacidades antioxidantes, anti-inflamatórias e neuroprotetoras. O professor Edvaldo Antonio Ribeiro Rosa, PhD em Microbiologia e docente na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), ressalta que pesquisas recentes indicam que o Cordyceps sinensis, bem como outras espécies do gênero Cordyceps, pode atuar positivamente como adjuvante em tratamentos de câncer de pulmão e mama, além de ter efeitos positivos sobre os rins e auxiliar no tratamento da depressão.
Por que o Cordyceps é caro?
O C. sinensis é encontrado em altitudes entre 3.500 e 5.000 metros, principalmente nas províncias de Qinghai, Sichuan, Yunnan, Gansu e Tibete, sendo popularmente conhecido como “viagra do Himalaia”. No entanto, a exploração excessiva desses habitats tem comprometido a produção do fungo, elevando seu preço e causando um aumento significativo no número de fatalidades entre coletores. Em 2022, mais vidas foram perdidas em busca do fungo do que em escaladas ao Monte Everest, conforme relatório da Bloomberg.
O Dalai Lama classificou essa atividade como uma crise preocupante, que incentiva a violência, com relatos de gangues que atacam coletores. Pesquisadores alertaram que, nos últimos 25 anos, o rendimento do C. sinensis natural na China caiu em mais de 90%, resultando em um aumento do preço para mais de 200.000 Renminbi (RMB) por quilo, o equivalente a aproximadamente US$ 25.000 em 2007. Atualmente, em condições de mercado de luxo em Pequim, 450 gramas do fungo chegam a custar US$ 136 mil. A produção anual de Cordyceps movimenta cerca de US$ 11 bilhões globalmente, segundo um estudo da Universidade de Massachusetts.
Variações e consumo no Brasil
Com a escassez e o alto custo do C. sinensis, outras espécies como C. militaris, C. liangshanensis, C. gunnii e C. cicadicola estão sendo cada vez mais utilizadas. Estima-se que há aproximadamente 350 espécies do gênero Cordyceps reconhecidas mundialmente.
Algumas dessas espécies são cultivadas em laboratório, o que reduz os custos de produção. No Brasil, o fungo é encontrado em forma de cápsulas em farmácias, lojas de produtos naturais e no comércio eletrônico, com preços a partir de R$ 50. Na China, o C. sinensis é reconhecido como uma droga herbal e utilizado há mais de 300 anos no tratamento de condições como fadiga, tosse, disfunção sexual e problemas renais. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite sua comercialização apenas como suplemento alimentar, sem as rigorosas regulamentações aplicadas a medicamentos, embora seu uso seja geralmente considerado seguro.
Embora os benefícios do Cordyceps sejam promissores, é importante destacar que grande parte das informações sobre suas propriedades terapêuticas ainda está sendo investigada. A maioria dos estudos, incluindo ensaios clínicos randomizados, sugere que os efeitos do fungus podem justificar seu uso como um complemento em várias terapias.
Bonzinho, mas nem tanto
Apesar de seus benefícios para humanos, o Cordyceps desempenha um papel destrutivo para insetos e outros artrópodes. O fungo invade o corpo de formigas e aranhas, controla seu sistema nervoso e os consome internamente, brotando para fora do cadáver após a morte do hospedeiro. Este comportamento peculiar inspirou a trama de “The Last of Us“.