A inclusão de bolsos em vestuário feminino tem gerado discussões entre estilistas e consumidores, evidenciando um dilema de longa data: a necessidade de funcionalidade na moda. Frases como “adorei seu vestido” e “obrigada, ele tem bolsos” refletem a crescente valorização desses espaços em roupas, que frequentemente atraem atenção e admiração.
Um exemplo notável foi o look de Dua Lipa no Met Gala de 2023: um vestido vintage da Chanel que apresentava bolsos, permitindo que a cantora posicionasse as mãos de maneira descontraída, o que gerou reações positivas entre os internautas. Uma situação similar aconteceu com Emma Stone, que aproveitou os bolsos avantajados de seu vestido vermelho da Louis Vuitton para guardar pipoca durante a comemoração do 50º aniversário do programa Saturday Night Live.
Apesar de parecer uma característica prática, a presença de bolsos em peças de vestuário feminino continua rara. Muitas vezes, quando existem, são pequenos ou meramente decorativos, como os bolsos falsos que decoram certos jeans e jaquetas. Essa ausência tem gerado questionamentos e reivindicações na internet sobre a desigualdade de gêneros, refletindo um desejo de que as roupas femininas sejam tão funcionais quanto as masculinas.
Hannah Carlson, professora da Escola de Design de Rhode Island e autora de “Pockets: An Intimate History of How We Keep Things Close” (Bolsos: uma história íntima de como mantemos as coisas fechadas), afirma que a história dos bolsos está intrinsicamente ligada a questões de desigualdade de gênero. “Desde a invenção da bolsa interna, as mulheres têm usado ‘bolsos diferentes’, uma manifestação de uma divisão desigual que persiste há séculos”, explica. A dificuldade em entender a ausência de bolsos é ainda mais intrigante, uma vez que são considerados um item simples e funcional.
Histórico dos Bolsos na Moda
Historicamente, os bolsos surgiram nas roupas masculinas no século XVI, quando bolsas amarradas chegaram a ser costuradas nas calças. Enquanto isso, as mulheres continuavam a usar bolsas amarradas à cintura. Conforme a moda masculina evoluía, os bolsos se tornaram cada vez mais comuns em vestimentas, como exemplificado pelos ternos europeus do século XVII, que incorporavam múltiplas opções de transporte de objetos.
Carlson detalha que levou séculos para que as mulheres conseguissem bolsos práticos em suas roupas, enfrentando opções limitadas e, em muitos casos, inadequadas. Durante os séculos 19 e 20, a moda feminina finalmente começou a integrar bolsos de maneira mais relevante, especialmente com a necessidade de trajes funcionais durante épocas de guerra, quando muitas mulheres passaram a trabalhar e se alistar nas Forças Armadas.
Ainda assim, a disparidade entre os bolsos masculinos e femininos continuou a persistir. Um estudo de 2018 revelou que os jeans femininos muitas vezes apresentam bolsos menores e menos funcionais do que os masculinos. Além disso, o avanço do fast fashion agravou a situação, levando a uma desvalorização dos itens que poderiam compor uma vestimenta prática, reforçando a visão de que a funcionalidade dos bolsos é um assunto secundário na moda feminina.
A indústria da moda, segundo Carlson, tende a desconsiderar a necessidade de bolsos e a funcionalidade, baseando-se em estereótipos que priorizam o visual em detrimento da utilidade. Embora algumas tendências atuais estejam resgatando a presença de bolsos nas passarelas, a luta por reconhecimento e igualdade nesse aspecto ainda é uma batalha contínua, marcada por uma história de desigualdade de gênero que persiste nas roupas que as mulheres vestem diariamente.