Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) revelaram que o consumo excessivo de álcool está associado ao surgimento de danos cerebrais e déficits cognitivos típicos da demência. O estudo, publicado na última quarta-feira (9) na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, destaca que indivíduos que consomem oito ou mais doses de álcool por semana apresentam riscos elevados de lesões cerebrais.
Uma dose é equivalente a 14 gramas de álcool, o que corresponde a aproximadamente uma latinha de cerveja (350 ml), 150 ml de vinho ou 45 ml de bebidas destiladas.
O autor principal do estudo, Alberto Fernando Oliveira Justo, explicou que a pesquisa investiga o impacto do álcool no cérebro durante o envelhecimento. “Nossa pesquisa mostra que o consumo excessivo de álcool é prejudicial ao cérebro, o que pode resultar em problemas de memória e raciocínio”, afirmou Justo.
Resultados do Estudo
A análise foi realizada com base no “banco de cérebros” da USP, que é parte do Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral da Faculdade de Medicina. A equipe examinou amostras de tecido cerebral de 1.781 indivíduos, com média de idade de 75 anos ao falecer.
Os cientistas investigaram as amostras em busca de lesões e avaliaram o peso cerebral e a altura dos participantes. Informações sobre o consumo de álcool foram obtidas a partir de questionários respondidos por familiares, permitindo que os pesquisadores dividissem os participantes em quatro grupos conforme o padrão de ingestão de álcool ao longo da vida:
- Grupo 1 (965 pessoas): nunca consumiram álcool.
- Grupo 2 (319 pessoas): ingeriam até 7 doses por semana.
- Grupo 3 (129 pessoas): consumiam 8 ou mais doses de álcool por semana.
- Grupo 4 (368 pessoas): tiveram um padrão de consumo elevado, mas interromperam o consumo ao longo da vida.
Os pesquisadores também consideraram variáveis como idade, tabagismo e prática de exercícios físicos. Os resultados mostraram que os participantes do Grupo 3, que consumiam alto volume de álcool, apresentaram uma probabilidade 133% maior de desenvolver lesões vasculares cerebrais em comparação aos que nunca consumiram álcool. Por outro lado, os ex-bebedores excessivos (Grupo 4) tiveram um risco elevado de 89%, enquanto os moderados (Grupo 2) apresentaram um aumento de 60%.
A arteriolosclerose hialina, um tipo de lesão que estreita e enrijece pequenos vasos sanguíneos, compromete o fluxo sanguíneo cerebral e pode levar a danos relacionados à demência. Essas lesões estão associadas a dificuldades de memória e raciocínio, que são características clássicas da demência.
Além disso, o estudo também observou o acúmulo da proteína tau, um marcador associado ao Alzheimer. Os resultados mostraram maior presença dessa proteína nos Grupos 3 e 4, com probabilidades aumentadas de 41% e 31%, respectivamente.
Justo concluiu que “o consumo excessivo de álcool está intimamente ligado a sinais de lesão cerebral, podendo causar efeitos de longo prazo na saúde cerebral e impactar a memória e as habilidades cognitivas. Entender esses efeitos é fundamental para promover a conscientização em saúde pública e implementar medidas preventivas contra o consumo excessivo de álcool”.