O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), classificou as redes sociais como “o maior poder de todos” e acusou as grandes empresas de tecnologia, conhecidas como big techs, de tentarem “controlar o mundo” ao ignorar legislações nacionais. A declaração foi feita em uma entrevista à revista The New Yorker, publicada na última segunda-feira, 8 de outubro.
Moraes criticou duramente Elon Musk, proprietário do X (anteriormente Twitter), associando o uso político da plataforma a estratégias de propaganda nazista. Ele afirmou que, caso Joseph Goebbels, o responsável pela propaganda de Hitler, estivesse vivo e tivesse acesso ao X, os nazistas teriam conseguido dominar o mundo, ressaltando o potencial de manipulação das massas através dos algoritmos.
O ministro é alvo de críticas de Musk desde que ordenou o bloqueio de perfis bolsonaristas no X, que estavam disseminando desinformação. Musk chegou a rotular Moraes de “ditador” e pediu sua destituição. Essa disputa levantou a possibilidade da suspensão da plataforma no Brasil.
Na entrevista, Moraes também destacou que Musk não apenas desconsiderou decisões judiciais, mas se tornou responsável pela desobediência da plataforma. “Eles não querem respeitar jurisdição alguma. O objetivo é se tornarem imunes às nações”, declarou o ministro, acusando as big techs de tentarem estabelecer uma nova “Companhia das Índias Orientais digital”.
Ele também mencionou que a extrema-direita global começou a explorar o poder das redes sociais desde a Primavera Árabe, visando enfraquecer instituições democráticas. Moraes explicou que, inicialmente, os algoritmos foram projetados para fins comerciais, mas logo se perceberam como ferramentas suscetíveis a influências políticas.
“Eles não atacam diretamente a democracia, alegam que as instituições estão corrompidas. É um populismo altamente estruturado”, completou.
Moraes acrescentou que o Brasil se tornou um campo de testes para a afirmação do poder político via internet, destacando que a extrema-direita busca o poder sem se opor diretamente à democracia, mas apontando que as instituições democráticas são fraudulentas. “Infelizmente, no Brasil e nos EUA, ainda não aprendemos a revidar”, afirmou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também entrevistado pela The New Yorker, expressou preocupação com o “enfraquecimento da democracia” diante da ascensão da extrema-direita e criticou a atuação da Starlink, a empresa de satélites de Musk, mencionando seu uso em áreas de garimpo ilegal na Amazônia. “Não vamos permitir que alguém que odeia nosso governo e o sistema de Justiça controle a informação de uma região estratégica como a Amazônia”, declarou Lula, referindo-se à instalação das antenas da Starlink em regiões remotas.
A reportagem ainda aborda o ex-presidente Jair Bolsonaro, que se tornou réu pela tentativa de golpe de Estado e é considerado inelegível até 2030. Moraes não comentou sobre o processo judicial em andamento, mas considerou “improvável” uma reversão da inelegibilidade determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ministro acrescentou que eventuais candidaturas de membros da família Bolsonaro não terão o mesmo impacto. “Nenhum deles tem a relação com as Forças Armadas que ele tinha”, observou.
Por fim, o ministro admitiu que já foi alvo de críticas tanto da esquerda quanto da direita. “Na época, me chamavam de golpista. Agora sou odiado pela extrema-direita. Já estou acostumado”, afirmou. A The New Yorker descreve Moraes como “um dos homens mais poderosos do Brasil” e líder em uma batalha jurídica contra as “milícias digitais” bolsonaristas. Em tom de ironia, o ministro comentou sobre um meme que o retrata: “Misturaram Voldemort com um Sith e disseram que sou eu. Achei engraçado”.