Um mês após a suspensão da assistência humanitária à Faixa de Gaza por parte de Israel, a situação nesse território tem se agravado drasticamente, afetando cerca de dois milhões de civis. As operações militares israelenses intensificadas contribuíram para o colapso das condições humanitárias, conforme relatado por várias organizações de ajuda, incluindo as Nações Unidas.
Civis em Gaza estão enfrentando um aumento alarmante da fome, além da escassez de água potável e problemas de saúde pública, como infestações de pulgas em abrigos improvisados. Este panorama se deteriorou ainda mais após a nova ofensiva lançada em março, que resultou em ordens de retirada obrigatórias para a população já fragilizada.
De acordo com a CNN, o governo israelense cortou o fornecimento de alimentos e outros tipos de ajuda humanitária para pressionar o Hamas a liberar mais reféns. Israel acusou o grupo de apreender ajuda destinada à população civil, uma alegação que foi corroborada por autoridades dos Estados Unidos em maio.
Nos últimos 14 dias, mais de 280 mil pessoas foram deslocadas, e cerca de dois terços da Faixa de Gaza foram transformados em áreas de acesso proibido, segundo dados do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Assem Al-Nabeeh, porta-voz do município de Gaza, informou que as pessoas estão sendo forçadas a buscar abrigo em espaços públicos e em edifícios comprometidos estruturalmente. A cidade, já marcada por sérios problemas de infraestrutura, enfrenta um acúmulo de aproximadamente 175 mil toneladas de lixo.
Risco de Fome e Desnutrição
Um relatório recente do OCHA advertiu que Gaza se encontra em risco iminente de fome e desnutrição, especialmente com o bloqueio contínuo que interrompeu a distribuição de farinha e fechou todas as padarias subsidiadas. O Programa Mundial de Alimentos (WFP) reportou que, em março, cerca de um milhão de pessoas ficaram sem cestas básicas. Embora algumas refeições quentes estejam sendo distribuídas, os estoques devem se esgotar em duas semanas.
A Israel alega que as entregas de ajuda devem ser monitoradas para evitar desvios pelo Hamas, mas possibilitar assistência humanitária ainda depende de um acordo de cessar-fogo ou alterações nas diretrizes do governo israelense. Atualmente, cerca de 89 mil toneladas de alimentos estão retidas nos limites de Gaza, enquanto os preços dos produtos alimentícios aumentam drasticamente. Um saco de farinha, por exemplo, chegou a custar 450% a mais em comparação com algumas semanas atrás.
Escassez de Água e Saneamento
A situação do abastecimento de água é igualmente crítica. O OCHA indica que dois terços das famílias em Gaza não têm acesso a seis litros de água potável por dia. As agências humanitárias relataram emergência no saneamento, principalmente em áreas superlotadas por pessoas deslocadas. A produção e distribuição de água, que havia melhorado durante um período de cessar-fogo, agora enfrentam desafios devido à destruição da infraestrutura.
As pressões internacionais têm aumentado para que Israel permita maior entrada de ajuda humanitária em Gaza. No entanto, essa preocupação foi menos enfatizada nas relações sob a administração anterior dos Estados Unidos.
Em meio a esses desafios, Gavin Kelleher, do Conselho Norueguês para Refugiados, ressaltou que mais de um milhão de pessoas ainda necessitam de abrigos, mas sua organização está com escassez de recursos para colaborar, mesmo com a contínua movimentação forçada de populações.
Impacto na Saúde e Superlotação nas Unidades de Saúde
Com o aumento das hostilidades e das baixas civis, o Hospital Al-Shifa está lidando com um volume de pacientes quase três vezes maior do que antes do reinício dos ataques em 18 de março. O Dr. Fadel Naeem, diretor de um hospital na cidade de Gaza, informou que a estrutura está sobrecarregada e que não há recursos suficientes para atender a todos os feridos adequadamente.
Somente em 3 de abril, o hospital recebeu 128 pacientes feridos, e as equipes médicas estão forçadas a priorizar atendimentos, podendo perder vidas devido à limitação de recursos. Philippe Lazzarini, chefe da Agência de Obras e Socorro da ONU, descreveu a situação em Gaza como caótica, onde as pessoas enfrentam a fome e estão exaustas ao serem constantemente confinadas a um espaço restrito.