Dólar pode cair de 5% a 10%, afirma ex-economista do FMI

O ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kenneth Rogoff, previu nesta segunda-feira, em São Paulo, que o valor do dólar deve cair entre 5% e 10% nos próximos dois a três anos. Rogoff, que atualmente leciona na Universidade de Harvard, reconheceu que prever a trajetória do dólar é complicado, mas argumentou que a moeda americana pode estar longe de seu valor real, o que configura uma exceção nas análises econômicas.
Rogoff destacou que, apesar dos avanços dos Estados Unidos em inteligência artificial, que aumentam a produtividade, acredita que o dólar enfrentará uma desvalorização significativa. Ele mencionou que as políticas adotadas durante a administração de Donald Trump podem ser um fator para essa tendência. O economista indicou que o estilo mais agressivo de Trump, que ele descreveu como uma “guerra econômica”, está impactando a moeda.
Ele observou que, embora as políticas não sejam novas, a rapidez com que estão sendo implementadas é impressionante. Segundo Rogoff, Trump conseguiu atingir metas em um período de tempo que normalmente levaria o dobro. Ele alertou que essa abordagem pode desgastar a posição do dólar como moeda dominante.
Rogoff trouxe um histórico sobre a moeda, ressaltando que, após a Segunda Guerra Mundial, o dólar foi elevado a um status privilegiado. Contudo, desde a década de 1970, sua participação como moeda de reserva internacional tem diminuído. Ele argumentou que há 15 anos, muitos duvidavam da forte presença do dólar, mas, após cinco anos, muitos acreditavam que outras moedas, como o euro, teriam maior relevância.
O economista previu que a economia global está se movendo em direção a um sistema mais multipolar, onde moedas asiáticas e criptomoedas podem ganhar importância. Rogoff afirmou que atualmente cerca de 20% da economia global utiliza criptomoedas, o que indica um mercado crescente com espaço para novas competições.
Ele também apontou que, apesar de os países ainda dependerem do dólar como a principal moeda, há um movimento em curso para repensar essa dependência. Países emergentes, como Brasil, Índia e China, estão desenvolvendo suas próprias plataformas digitais, o que pode reduzir a necessidade de transações baseadas exclusivamente no dólar.
Sobre as stablecoins, que são criptomoedas atreladas a ativos estáveis como o dólar, Rogoff observou que elas estão se tornando cada vez mais relevantes na economia global. Ele destacou que, apesar de seu crescimento, há preocupações com a falta de regulamentação e auditoria, o que pode gerar riscos como sonegação fiscal.
Rogoff enfatizou que esse cenário deve ser acompanhado com atenção, pois as mudanças nas moedas e na economia global estão em constante evolução.