Crédito para indústria de transformação cai 40% em 12 anos

O crédito para a indústria de transformação brasileira caiu 40% entre 2012 e 2024, de acordo com um levantamento recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O estudo, que utiliza dados do Banco Central, revela uma mudança significativa na forma como os recursos financeiros são distribuídos no país. Enquanto o crédito destinado à produção tem diminuído, os bancos estão priorizando empréstimos voltados para o consumo das famílias.
A CNI destaca que a queda no crédito não é um fenômeno isolado. No mesmo período, houve uma redução de 38% na indústria extrativa e de 29% na construção civil. Em contrapartida, setores como a administração pública, pessoas físicas, serviços financeiros, agropecuária, e os segmentos de eletricidade, gás e água registraram aumentos significativos, variando entre 20% e 118%.
Com essa mudança, a participação da indústria no total do crédito disponível caiu de 27,2% para 13,7%. Essa diminuição é preocupante, pois indica uma concentração maior de recursos na mão de consumidores, enquanto a produção industrial enfrenta dificuldades.
Ricardo Alban, presidente da CNI, ressalta que o crédito destinado à indústria é vital para impulsionar outros setores da economia e para o crescimento sustentável do país. Ele acredita que o modelo atual prejudica o investimento e a competitividade das empresas brasileiras, sendo necessário criar melhores condições de financiamento para promover o crescimento industrial.
A CNI afirma que a redução no crédito à indústria não resulta de uma diminuição geral no financiamento, mas sim de uma nova alocação dos recursos financeiros. Em 2012, 55% do crédito era destinado a empresas, enquanto 45% ia para pessoas físicas. No entanto, doze anos depois, a situação se inverteu: 63% do crédito é agora direcionado a pessoas físicas e 37% para pessoas jurídicas.
Além disso, a queda nos financiamentos de médio e longo prazos é ainda mais acentuada, afetando diretamente a capacidade das indústrias de investir em modernização e inovação. Essa mudança estrutural significa que, em 2024, os empréstimos de curto prazo representam 82% do total de créditos na indústria, frente a 73% em 2012.
A CNI enfatiza que a falta de crédito adequado prejudica tanto o capital de giro das empresas quanto suas possibilidades de investimento futuro. Sem financiamento a longo prazo, a indústria nacional não consegue se modernizar e fica em desvantagem perante concorrentes internacionais, especialmente na capacidade de atender à demanda interna, que cresce com a disponibilidade de crédito para consumo.
Esse cenário resulta em um aumento das importações, já que a produção local não consegue acompanhar a demanda. Assim, o consumo acaba sendo suprido por produtos estrangeiros, o que fragiliza a balança comercial do Brasil.
Historicamente, o crédito industrial se manteve estável até 2014, mas começou a cair após a crise de 2015-2016, quando a taxa Selic alcançou 14,25% ao ano. Em 2017, o crédito à indústria já havia encolhido 34% em relação a 2012. Durante a pandemia em 2020, houve uma leve melhora temporária no crédito de curto prazo, mas a tendência de queda foi retomada nos anos posteriores.
A CNI afirma que a diminuição do crédito industrial tem implicações significativas para a economia do Brasil. Na falta de investimentos adequados, a produção não se estabelece de acordo com o consumo, aumentando a dependência de importações e comprometendo o crescimento a longo prazo. Esse cenário reafirma a necessidade de criar alternativas de financiamento que apoiem o investimento produtivo, fundamental para a competitividade da indústria no país.