Fed enfrenta desafios após paralisação nos EUA

O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, enfrenta um desafio complicado na avaliação da política de juros. Em setembro, o banco começou a reduzir as taxas de juros, mas a situação se complicou com a possibilidade de um fechamento do governo, conhecido como shutdown. Essa paralisação impediu a divulgação de dados econômicos importantes, fundamentais para a tomada de decisões.

O Departamento de Estatísticas de Trabalho anunciou que não publicará o relatório de emprego já esperado. Outros indicadores, como o índice de preços ao consumidor, também poderão ser afetados caso um acordo não seja alcançado entre o Congresso e a administração do presidente Donald Trump. Essa falta de informação tornará a análise da economia mais difícil, especialmente em um momento em que já existem divergências entre os dirigentes do Fed sobre a estratégia de cortes de juros.

Austan Goolsbee, presidente do Fed de Chicago, expressou preocupação ao afirmar que a ausência de estatísticas oficiais é dolorosa, especialmente em um período que requer uma melhor compreensão da dinâmica econômica. Os formuladores de políticas monetárias querem saber o quão impactantes são os juros atuais sobre o crescimento econômico. Isso se torna mais complicado quando há poucas informações disponíveis.

É importante entender que, se as taxas de juros não estão limitando o crescimento como se pensava, o Fed pode ter menos margem para continuar reduzindo as taxas antes de atingir um chamado nível “neutro”. Esse nível é quando a política monetária não provoca nem aceleração nem desaceleração da economia. A pressa em agir ou o contrário podem resultar em mais inflação, especialmente devido às tarifas impostas por Trump. Por outro lado, se os juros estiverem realmente restringindo a economia, o banco central poderá precisar agir rapidamente para evitar danos ao mercado de trabalho.

Stephen Stanley, economista-chefe dos EUA no Santander, destacou a existência de desacordos significativos sobre onde esse nível neutro se encontra. Ele também alertou que uma paralisação prolongada do governo poderia adicionar mais incertezas à economia, com estimativas que indicam que cada semana de shutdown pode reduzir o PIB do trimestre em cerca de 0,1%.

Além do risco de shutdown, o Fed também observa a desaceleração do crescimento do emprego, que gera preocupações sobre o mercado de trabalho. Apesar disso, a taxa de desemprego permanece estável em 4,3%. Por outro lado, a inflação também está acima da meta de 2% estabelecida pelo Fed, com aumento nos preços de produtos impactados por tarifas. Embora muitos dirigentes acreditem que essas pressões inflacionárias podem diminuir ao longo do tempo, novas tarifas, como as anunciadas recentemente sobre móveis e materiais de madeira, podem prolongar essa situação.

Antes da possível paralisação, Jerome Powell, presidente do Fed, indicou que era favorável a uma redução gradual dos juros, que atualmente estão entre 4% e 4,25%. Ele disse que essa ação é parte de uma estratégia de “gestão de riscos”, visando proteger o mercado de trabalho, na expectativa de que a inflação relacionada às tarifas seria temporária. Enquanto ele e muitos outros ainda consideram os juros como “moderadamente restritivos”, nem todos compartilham dessa opinião.

Stephen Miran, um dos novos membros do Conselho de Governadores do Fed, acredita que as taxas estão muito restritivas. Ele alertou que não reduzir as taxas rapidamente em dois pontos percentuais poderia levar a demissões desnecessárias e ao aumento do desemprego. Miran defende que a taxa neutra real é muito menor do que as estimativas atuais do Fed, que a colocam em torno de 3%.

Por outro lado, Vincent Reinhart, ex-economista do Fed, argumenta que, apesar do crescimento mais lento, a economia não está em colapso. As empresas não estão demitindo em massa e o consumo continua a ser forte. Steven Blitz, economista-chefe na GlobalData TS Lombard, acrescentou que, se Miran estiver certo, isso poderia indicar que as políticas governamentais estão prejudicando a economia.

Até agora, a maioria dos novos colegas de Miran no Fed ainda não está convencida. Um grupo de dirigentes tem enfatizado a necessidade de cautela em relação aos cortes. Sinais claros de enfraquecimento no mercado de trabalho auxiliariam no fortalecimento do argumento para a redução dos juros. Contudo, quanto mais durar o shutdown, mais difícil será coletar essas evidências. A situação atual não é ideal, especialmente em um momento em que o Fed busca reiniciar sua campanha de afrouxamento monetário.

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