Alimentação em domicílio eleva inflação abaixo do esperado

Em outubro, o IPCA-15, que é a prévia da inflação, registrou um aumento de 0,18%. Essa taxa ficou abaixo do esperado, impulsionada principalmente pela queda nos preços dos alimentos em domicílio, que apresentaram deflação em itens como carnes e recuo em produtos in natura. Esses fatores ajudaram a mitigar, em parte, as altas observadas na energia elétrica e em alguns serviços.
Os dados indicam que a média dos núcleos de inflação continua avançando de forma abaixo do que era projetado. Isso sugere que o controle da inflação pode estar iniciando uma fase de recuo mais consistente. Para Leonardo Costa, economista do ASA, esse resultado é um indicativo positivo, embora ainda haja ressalvas. Ele ressalta que, nos últimos dois meses, o núcleo de serviços apresentou desempenho mais fraco, o que representa um alívio nas pressões inflacionárias. No entanto, ele também destacou que parte desse alívio pode ser temporário, como no caso de promoções em entretenimento, por exemplo, ingressos de cinema.
Embora haja sinais de desaceleração da inflação, esse processo ainda está em um estágio inicial e pode ser acompanhado por volatilidade nos próximos meses, segundo Costa. Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), observou que, no acumulado de 12 meses, a inflação ficou abaixo de 5% pela primeira vez em 2023, e a expectativa é de que ao final do ano ela fique um pouco acima de 4,5%.
Queiroz também comentou que a alimentação em domicílio tem sido uma das principais contribuições para a desaceleração da inflação. Ele mencionou a importância da alimentação no orçamento das famílias, especialmente naquelas de menor renda. Em outubro, produtos essenciais como arroz, leite, ovos e cebolas apresentaram queda nos preços, o que é considerado um sinal positivo. Por exemplo, o arroz sofreu uma queda de 1,37%, e os ovos caíram 3%, indicando que o custo das compras no supermercado está se tornando mais acessível.
Em relação aos bens industrializados, Costa destacou que houve surpresas negativas, com a redução nos preços, especialmente em itens de residência e uma deflação no seguro de veículos. O Departamento de Pesquisas Econômicas do Banco Daycoval apontou que os valores dos bens industriais não corresponderam às expectativas. Exceto pelo etanol, que teve um aumento considerável, a maioria dos itens, como automóveis usados e eletrodomésticos, apresentou queda de preços.
A deflação em bens industriais, segundo Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, pode estar relacionada à queda de preços observada na China, o que gera preocupações sobre a possível deflação tanto no consumidor quanto no atacado.
Os números indicam que a desaceleração da inflação foi impulsionada principalmente pela queda nos preços de alimentação e bebidas, que recuaram pela quinta vez consecutiva, com deflação em produtos como carnes, arroz e leite. Por outro lado, o setor de habitação apresentou um aumento de 0,16%, em que a energia elétrica residencial caiu 1,09%, revertendo parte da alta anterior.
Os grupos de transportes e despesas pessoais foram os que mais contribuíram para o resultado final, com uma alta nos combustíveis, especialmente etanol e gasolina, além de um aumento nas tarifas de passagens aéreas e nos serviços ligados a lazer e turismo.
Queiroz espera que essa tendência de queda na inflação persista, impulsionada pela safra recorde de grãos, que pode reduzir os preços de itens básicos. A valorização do real em relação ao dólar também deve ajudar a controlar a inflação, o que poderá melhorar o poder de compra dos consumidores até o final do ano, comparado ao ano anterior.
No que diz respeito à Selic, Nicolas Gass, especialista em alocação de investimentos, acredita que o Banco Central deve manter a previsão de corte de juros para o primeiro trimestre do próximo ano. Outros especialistas, como Pablo Spyer e André Valério, mencionaram que a inflação está moderando, mas ainda há preocupações com a composição dos preços, especialmente em serviços e itens que demandam mão de obra. Valério também destacou que a expectativa é de manter a tendência de desinflação nos meses seguintes, com menos pressão em combustíveis e energia, além de um aperto monetário que deve manter os preços em queda. Ele projeta que o IPCA deve terminar 2025 com uma alta acumulada de 4,7% e que o corte de juros deve começar em janeiro.



