O cenário econômico global está se transformando com a implementação de tarifas recíprocas pelos Estados Unidos, cujos efeitos mais significativos começarão a ser percebidos nos próximos meses. Este contexto gera preocupações sobre a possibilidade de estagflação, situação que combina desaceleração econômica e aumento da inflação. A China, por sua vez, enfrenta o desafio de destinar seu excedente de produção, o que pode potencialmente desencadear uma guerra econômica mundial. O economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio Leal, destaca que “é a lei de Murici: é cada um por si”.
As novas tarifas apresentam dificuldades para o Federal Reserve (Fed), que pode precisar reduzir os juros para evitar instabilidades financeiras nas empresas. Leal explica que o primeiro efeito das tarifas será um impacto inflacionário, resultando em um aumento nos preços dos bens que permanecem em demanda nos Estados Unidos. Paralelamente, a diminuição da demanda também deve ocorrer, criando uma situação complicada.
A moeda brasileira também pode ser afetada. Segundo Leal, o Real poderá enfrentar duas pressões adversas: uma aversão ao risco, que já levou a uma desvalorização da moeda, e preocupações com uma possível queda acentuada nos preços das commodities.
Referente à reindustrialização nos EUA, Leal se diz cético sobre as promessas de Donald Trump, comparando essa estratégia a tentar resgatar um modelo econômico obsoleto. Ele argumenta que “a economia americana é predominantemente de serviços”, enfatizando a inadequação da proposta de reverter a produção para bens físicos.
No futuro, as tensões comerciais escalam à medida que a China busca novos mercados para escoar sua produção excedente. A retaliação contra tarifas pode gerar uma onda de protecionismo, intensificando o risco de uma guerra comercial e reduzindo significativamente o comércio internacional.
Sobre a política do Fed, Leal sugere que, caso a inflação permaneça alta enquanto a economia entra em recessão, o banco central pode optar por reduzir as taxas de juros. Essa medida seria uma tentativa de evitar problemas financeiros sistêmicos.
No Brasil, a previsão é de que a aversão ao risco continue impactando o câmbio, dificultando uma recuperação rápida do Real. A possibilidade de uma recessão nos EUA é cada vez mais considerada, com projeções de uma queda do PIB americano no primeiro trimestre. Isso gera incerteza e pode retardar ações corretivas.
Em suma, a dinâmica atual das tarifas e suas consequências podem levar a um ambiente comercial tenso e a preços voláteis, gerando uma nova configuração econômica global que requer adaptação e cautela por parte de todos os envolvidos.