A morte do papa Francisco em 21 de abril de 2023 trouxe novamente os ritos funerários do Vaticano ao centro das atenções globais. As cerimônias, repletas de simbolismo e solenidade, incluem a exposição pública do corpo do pontífice na Basílica de São Pedro, permitindo aos fiéis prestarem suas últimas homenagens. A conservação do corpo é crucial nesse processo, embora nem sempre tenha sido executada com sucesso no passado.
Um dos episódios mais significativos e embaraçosos da história recente da Igreja Católica ocorreu em 1958, com o falecimento do papa Pio XII, também conhecido como “papa Pacelli”. A tentativa de preservar seu corpo por meio de um método experimental resultou em rápida decomposição e, em um incidente infeliz, uma explosão dentro do caixão durante o cortejo.
Pio XII faleceu no verão italiano, na residência de Castel Gandolfo, após uma parada cardíaca. Ao seu lado estava o oftalmologista Riccardo Galeazzi-Lisi, médico oficial do Vaticano, cuja reputação era controversa. Dias antes da morte de Pio XII, Galeazzi-Lisi havia vendido fotos do papa hospitalizado à revista francesa Paris Match, o que escandalizou o Vaticano.
O Colapso do Corpo
Após o falecimento, o erro maior se deu na escolha do método de conservação. Galeazzi-Lisi persuadiu o papa a adotar uma técnica não convencional chamada “osmose aromática”, supostamente inspirada em práticas dos primeiros cristãos. Este procedimento consistia na aplicação de óleos e resinas diretamente sobre o corpo, que estava envolto em celofane.
Na primeira noite após a morte, o resultado foi desastroso. O calor do outono italiano acelerou a decomposição, causando inchaço visível no corpo. Guardas papais desmaiavam devido ao forte odor, levando à redução dos turnos de vigilância para evitar que alguém ficasse próximo ao cadáver por muito tempo.
Durante o traslado até a Basílica de São Pedro, o caixão explodiu devido à pressão dos gases, o que alarmou os acompanhantes. Uma parada emergencial na Arquibasílica de São João de Latrão foi necessária para reparos, enquanto o forte odor de decomposição permeava o ambiente.
Ao chegar ao Vaticano, o corpo apresentava sinais graves de decomposição, como pele escurecida e um “sorriso macabro”, segundo o historiador Antonio Margheriti. Uma equipe de tanatopraxistas teve que agir rapidamente, reembalsamando o corpo e aplicando uma máscara de cera e látex, embora o aspecto do cadáver, ainda inchado, fosse visível durante os nove dias de luto.
Consequências para Galeazzi-Lisi
O escândalo resultou em sérias consequências para Galeazzi-Lisi, que foi expulso do Vaticano pelos cardeais, mesmo antes do conclave que elegeu João XXIII. Seu método não foi mais utilizado em funerais papais. Galeazzi-Lisi faleceu em 1968.
Em contraste, o funeral de João XXIII é considerado um exemplo de preservação bem-sucedida. O corpo foi embalsamado utilizando uma solução de formaldeído aplicada pelas artérias, garantindo a sua conservação efetiva durante a exposição pública.