O governo do presidente Javier Milei classificou a greve geral realizada na Argentina nesta quinta-feira, 10 de outubro de 2023, como um “ataque à República”. Convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a maior central sindical do país, essa é a terceira paralisação desde que o ultraliberal Milei assumiu o cargo, em dezembro de 2023. O movimento ocorre em um contexto de tensões sociais, marcado por demissões em massa e uma queda no consumo que já se estende por 15 meses consecutivos.
A greve, que teve adesão parcial, impactou principalmente os setores de transporte e serviços públicos. A Aerolíneas Argentinas cancelou mais de 250 voos, afetando cerca de 20 mil passageiros. Nos sistemas de trem e metrô, a paralisação foi total, enquanto os ônibus em Buenos Aires funcionaram com alta demanda, uma vez que a União Tranviários Automotor (UTA), o principal sindicato do setor, decidiu não participar do movimento.
Em comunicado divulgado nas estações de trem, o governo afirmou que a ação sindical atenta contra milhões de argentinos. O Executivo instou os trabalhadores a denunciarem qualquer tentativa de coação para aderir à greve. Durante o dia, ministros e aliados de Milei se manifestaram nas redes sociais de maneira contundente. O presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem, escreveu que “hoje se trabalha”, defendendo que “nenhuma greve trouxe benefícios à sociedade como um todo”. Por sua vez, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, afirmou que “as ruas agora pertencem aos que trabalham”, referindo-se a manifestações populares anteriores ao governo Milei.
A CGT e outras entidades associadas reivindicam a liberdade para negociações salariais, a recomposição das aposentadorias, atualizações de bônus e o direito de protestar sem repressão. Esse movimento é uma resposta ao descontentamento com as políticas de ajuste fiscal adotadas pelo governo, que resultaram na demissão de milhares de servidores públicos e na significativa perda do poder aquisitivo da população.
Embora o governo tenha adotado um tom desafiador, a greve sinaliza o desgaste crescente da gestão de Milei, que enfrenta pressões devido à alta inflação, ao aumento da pobreza e à frustração com a expectativa de recuperação econômica. Para a Casa Rosada, o movimento sindical representa a “velha política”, e a greve é vista como uma tentativa de desestabilizar o projeto de reformas liberais.
Milei, que tem uma taxa de aprovação em torno de 40%, opta pelo confronto direto com o que considera a “casta sindical” para manter o apoio popular diante das dificuldades econômicas. Sua postura agressiva em relação aos sindicatos serve como argumento para justificar medidas impopulares, com a promessa de uma “reinvenção” do Estado argentino.