O recente acordo do Fundo Monetário Internacional (FMI) com a Argentina, que envolve um empréstimo de US$ 20 bilhões, gerou preocupações entre altos executivos da instituição financeira global. Com a liderança do novo presidente argentino, Javier Milei, considerado um aliado próximo de Donald Trump, a decisão de liberar o crédito foi aprovada apesar das objeções. Aproximadamente metade dos 25 diretores do conselho do FMI expressou inquietações significativas sobre o impacto do acordo, uma vez que a Argentina já é o maior devedor da instituição, possuindo mais de um terço do crédito total disponível.
Quando o conselho se reuniu em Washington no dia 11 de abril para discutir a aprovação, a impressão era de que o resgate já estava garantido. Informações antecipadas sobre o acordo foram reveladas em uma coletiva de imprensa em Buenos Aires, horas antes da validação formal. O tratamento especial dado à Argentina gerou debates acalorados entre os diretores, que se preocuparam com a possibilidade de decisões motivadas mais pela política do que por fundamentos econômicos, conforme revelaram fontes que preferiram não ser identificadas.
Rodrigo Valdes, diretor da região das Américas do FMI, defendeu a aprovação ao afirmar que o programa resultou de uma análise rigorosa e que refletia o compromisso da Argentina com a estabilização econômica. O fato gerou desconfiança, dado o histórico de programas anteriores do FMI no país, que frequentemente terminaram sem resultados eficazes. No entanto, a administração de Milei apresentou mudanças significativas nas políticas econômicas, como cortes drásticos nos déficits orçamentários e uma queda acentuada na inflação.
No dia 24 de abril, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, declarou que a nova abordagem tinha como objetivo estabelecer uma trajetória econômica sólida, ressaltando que a Argentina não estaria sozinha nesse processo. O respaldo dos Estados Unidos a este empréstimo também marcou um ponto de virada, já que o país se abstinha de apoiar outras iniciativas do FMI recentemente. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, visitou a Argentina poucos dias depois da aprovação do empréstimo, reiterando apoio às reformas econômicas de Milei.
As discussões no conselho do FMI geraram um ambiente de indefinição enquanto o acordo se aproximava. Havia um receio em relação à quantidade de dinheiro a ser desembolsada antecipadamente e as consequências disso para a estrutura de dívida da Argentina, que já possui uma obrigação de US$ 41 bilhões a partir de 2026. A questão da reforma política interna de Milei também foi um ponto de debate, visto que ele não obteve uma maioria no Congresso.
Por fim, as preocupações sobre a viabilidade do empréstimo continuam. O receio é que a Argentina possa utilizar os fundos de forma inadequada. Analistas alertam que a decisão do FMI de aumentar sua exposição a um país com um histórico instável pode criar mais riscos. O consenso entre os membros do conselho é que o FMI pode estar se posicionando inadvertidamente como um “credo júnior” na reestruturação da dívida argentina.