O especialista em relações internacionais, Marcos Troyjo, avaliou nesta terça-feira, 8, as tarifas comerciais anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alertando que essas medidas podem ter consequências severas para a economia norte-americana. Segundo Troyjo, esta abordagem parte de um diagnóstico incorreto sobre as reais causas da perda de competitividade da maior economia global.
Durante um fórum de investimento promovido pelo Bradesco BBI, Troyjo destacou dados alarmantes, como o fato de que 60% da população americana não possui alfabetização funcional e que o México forma mais engenheiros anualmente do que os Estados Unidos. Ele sublinhou que os EUA estão mirando no lugar errado para tratar os seus desafios econômicos, o que pode resultar em um “alto preço [a ser pago] por isso”.
O diplomata, que já ocupou cargos relevantes como o de secretário de Comércio Exterior e presidente do banco dos Brics, criticou a guerra comercial iniciada por Trump em seu primeiro mandato. Ele argumentou que a interdependência econômica resultante da globalização tornou a estratégia de contenção ineficaz.
Ele também mencionou que todos os avanços econômicos significativos desde a Segunda Guerra Mundial estão intrinsicamente ligados ao comércio exterior próspero, o que, contrariamente, não enfraqueceu os Estados Unidos. Segundo ele, o desemprego americano se manteve abaixo de 5% em metade dos últimos 25 anos.
Por sua vez, o cientista político Oliver Stunkel, professor de relações internacionais da FGV e também palestrante no evento, observou que a administração Trump rompeu com um consenso bipartidário que reconhecia a globalização como a melhor estratégia para enfrentar a ascensão da China. Stunkel argumentou que a interdependência econômica poderia atenuar os riscos ligados ao crescimento contínuo do gigante asiático.
Stunkel reforçou que a posição mais adequada seria buscar uma aproximação econômica com a China ao invés de tentar conter sua ascensão. Ele lembrou que, ao longo do século XX, os Estados Unidos tentaram evitar o crescimento de quatro grandes potências (o Império Alemão, o Japão Imperial, a Alemanha Nazista e a União Soviética) utilizando a estratégia de contenção.
Outro ponto levantado por Stunkel foi o rompimento, por parte de Trump, da ideia anterior de que a presença militar americana na Europa asseguraria estabilidade e, assim, evitaria conflitos. Além disso, o professor destacou a mudança na natureza das relações dos EUA com potências, afirmando que o atual presidente demonstra preferência em negociar com líderes autoritários, como os da China, Turquia e Rússia.
Por fim, Troyjo observou que, após não conseguir implementar sua agenda no primeiro mandato devido à oposição de assessores mais conservadores, Trump retornou ao poder com uma equipe renovada para efetivar suas propostas.