A paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, conhecida como shutdown, começou em 1º de outubro de 2025 e já está impactando os processos de visto e imigração, afetando diversos brasileiros. Mesmo que ainda não haja um bloqueio total das atividades, a redução de parte dos serviços federais tem causado atrasos significativos em autorizações de trabalho, green cards e nas etapas essenciais para a imigração.
Os órgãos envolvidos no processo têm carteira de financiamento variada. Enquanto o U.S. Citizenship and Immigration Services (USCIS) continua funcionando normalmente, pois é financiado por taxas de solicitação, outros setores, como o U.S. Department of Labor (DOL), estão paralisados devido à falta de liberação de recursos do Congresso.
As interrupções têm gerado atrasos em processos internos. Fabiano Rocha, CEO da Jumpstart Immigration, apontou que as complicações surgem quando etapas necessárias envolvem departamentos parados. Embora o USCIS esteja operando, o bloqueio de outras agências está criando gargalos críticos.
As embaixadas e consulados dos EUA no Brasil continuam a funcionar, mas enfrentam filas maiores e prazos mais longos para o processamento de vistos e passaportes. Desde o início de outubro, as atualizações nos canais oficiais das instituições têm sido limitadas, focando apenas em informações urgentes de segurança. A execução de passaportes e vistos permanece em andamento “enquanto a situação permitir”.
Os aeroportos e fronteiras permanecem abertos, com órgãos como o Customs and Border Protection (CBP) e a Transportation Security Administration (TSA) operando normalmente, embora haja relatos de filas e tempos de espera prolongados devido à escassez de servidores.
Os estudantes internacionais foram um dos primeiros grupos a sentir os efeitos da paralisação. O sistema E-Verify, utilizado por empresas para validar autorizações de trabalho, ficou fora do ar por quase uma semana. Isso impediu temporariamente cerca de um milhão de alunos de estagiar. O E-Verify foi reintegrado em 7 de outubro, possibilitando a regularização das pendências.
Os maiores problemas estão relacionados aos vistos de trabalho e green cards, que dependem das ausências de etapas conduzidas pelo DOL. O sistema FLAG, importante para aproval de salários e certificações trabalhistas, ficou inoperante desde o início do shutdown. Sem essas aprovações, empregadores não conseguem avançar com questões relacionadas a vistos H1B e green cards de emprego. Estima-se que entre 40 mil e 80 mil profissionais estejam impedidos de mudar de emprego devido à paralisação.
O visto H1B é um dos mais relevantes para profissionais qualificados, mas atualmente enfrenta polêmicas com o anúncio de uma taxa de US$ 100 mil para aplicações fora dos EUA. Essa medida inicialmente causou apreensão, mas esclarecimentos posteriores afirmaram que quem já está nos EUA não seria afetado.
Frente aos atrasos, muitas empresas de tecnologia começaram a considerar vistos alternativos que não dependem do DOL, como o B1 (habilidades extraordinárias) e o EB1 (green card por mérito). As empresas perceberam que o caminho tradicional do H1B se tornou complicado e agora buscam fazer uso de opções com menos entraves.
Apesar das dificuldades, o impacto sobre os brasileiros na imigração é considerado menor em comparação a outras nacionalidades, especialmente uma vez que o H1B recebe aproximadamente 90% das suas aplicações de indianos e chineses. Menos de 3 mil brasileiros solicitam o visto anualmente, e estima-se que somente cerca de 900 possam ser diretamente impactados pelas mudanças.
Além disso, uma recente alteração nas regras da loteria do H1B torna as chances de permanência para estudantes de graduação ainda mais difíceis. Agora, a seleção dos candidatos prioriza aqueles com salários mais altos, o que prejudica recém-formados que geralmente conquistam salários mais baixos. A redução da chance de sucesso de 20% para cerca de 10% para esses estudantes é um fator a ser considerado.
Enquanto a paralisação permanecer, especialistas sugerem cautela e um planejamento rigoroso para aqueles que dependem do DOL. É recomendado que viajantes levem documentos de suporte e mantenham contato estreito com consultores de imigração para ajustar suas expectativas. A paralisação é temporária, mas seus efeitos podem se prolongar nos meses seguintes.
