A China está permitindo a desvalorização do yuan em relação às principais moedas globais para fortalecer sua economia, cada vez mais afetada pela guerra comercial com os Estados Unidos. Na quinta-feira (9), o yuan onshore registrou seu menor valor em relação ao dólar desde a crise financeira de 2008, embora tenha recuperado parte das perdas após expectativas de uma reunião entre líderes chineses para avaliar estímulos econômicos. A moeda também caiu a um patamar inédito em 15 meses frente a uma cesta de moedas de seus principais parceiros comerciais.
As apostas contra o yuan aumentaram após o Banco do Povo da China reduzir pela sexta vez consecutiva a taxa de referência da moeda, uma medida gradual que indica a intenção de Pequim de enfraquecer o câmbio gerenciado. Essa taxa fixa determina a oscilação diária do yuan em até 2% para cima ou para baixo no mercado onshore.
A desvalorização em relação à cesta de moedas torna os produtos chineses mais competitivos, tornando-se uma estratégia para compensar as tarifas de 125% aplicadas pelo ex-presidente Donald Trump. Essa imposição pode prejudicar o comércio entre as duas maiores economias do mundo.
Segundo Ju Wang, chefe de estratégia cambial e de juros para a China no BNP Paribas, “é razoável que a China adote uma estratégia de enfraquecimento gradual da taxa de referência do yuan”, pois isso poderia facilitar uma desvalorização constante, uma abordagem mais eficaz em resposta às tarifas.
No contexto atual da crise comercial, Trump intensificou sua ofensiva tarifária contra a China, enquanto suspendeu tarifas sobre outros países. Como resposta, Beijing implementou tarifas de 84% sobre todas as importações dos EUA e se comprometeu a “lutar até o fim” contra as medidas norte-americanas.
O impasse entre os dois países levanta a possibilidade de a China adotar retaliações que vão além das tarifas, o que aumentaria a pressão por uma nova desvalorização do yuan. Ken Cheung, estrategista-chefe de câmbio da Ásia no Mizuho Bank, afirmou que “o PBoC manteve estável a taxa de referência para ancorar o sentimento do mercado, enquanto debilitava o índice da cesta do yuan para melhorar a competitividade nas exportações.” Ele observa ainda que as tarifas elevadas dos EUA impactaram significativamente o comércio bilateral.
Ainda que Pequim tenha optado por não realizar uma desvalorização drástica da moeda, como alguns analistas previam, isso se deve aos custos que tal medida poderia acarretar, incluindo a possível perda de confiança nos ativos chineses e a intensificação dos conflitos com os EUA.
Trump já acusou a China de manipular sua moeda para contrabalançar os efeitos das tarifas. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, caracterizou o país como o “pior infrator” do sistema comercial internacional, afirmando que Pequim não deveria desvalorizar o yuan em resposta às tarifas.
Wei Liang Chang, estrategista do DBS Bank, também vê uma desvalorização acentuada do yuan como um cenário improvável, pois “seria perturbadora demais para os mercados”. Ele acredita que a China compreenderá a necessidade de manter boas relações comerciais em um ambiente global cada vez mais fragmentado.
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