O turismo internacional nos Estados Unidos enfrentou uma queda significativa em março de 2024, em decorrência de tensões políticas, endurecimento das medidas na fronteira e boicotes a produtos americanos. Dados da Administração de Comércio Internacional (ITA) indicam que as chegadas aéreas de turistas estrangeiros apresentaram uma diminuição de 10% em comparação com o mesmo mês do ano anterior, resultando em um declínio total de 12% das visitas, a maior retração desde março de 2021, quando o turismo ainda se recuperava da segunda onda da pandemia.
Estimativas apontam que as repercussões dessa diminuição no turismo e dos boicotes podem impactar o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA em até 0,3% em 2025, equivalente a perdas de até US$ 90 bilhões, conforme um relatório do Goldman Sachs. Os analistas do banco destacam que "anúncios de tarifas dos EUA e uma postura mais agressiva em relação a aliados históricos prejudicaram a imagem global do país."
Em 2024, o turismo internacional gerou receitas de US$ 254 bilhões, representando 2,5% do PIB americano e considerado um dos pilares da recuperação econômica pós-pandemia. Entretanto, os dados recentes indicam uma reversão dessa recuperação. Estimativas anteriores projetavam 77 milhões de visitantes estrangeiros para este ano, mas o aumento de denúncias de detenções em aeroportos e o fortalecimento de um discurso protecionista, particularmente sob a influência do ex-presidente Donald Trump, começaram a gerar novas preocupações.
A queda no número de visitantes é generalizada. De acordo com a ITA, as chegadas da Europa Ocidental com pelo menos uma pernoite nos EUA caíram 17% em março. Viagens de países como Irlanda, Noruega e Alemanha sofreram quedas superiores a 20%. A consultoria Tourism Economics, que anteriormente estimava um crescimento de 9% nas chegadas internacionais em 2025, revisou essa previsão para uma contração de 9,4%, apontando um "contexto mais contencioso para o turismo receptivo."
As reservas de voos do Canadá para os EUA também foram afetadas, com uma diminuição de 70% até setembro em relação ao mesmo período de 2024, conforme dados da OAG Aviation. O Canadá, que representa um contingente significativo de turistas para os EUA, contribuindo com 1,4 milhão de visitantes em destinos como Las Vegas no ano passado, enfrenta expectativas de redução de 5% na arrecadação com impostos sobre hospedagem, segundo a Las Vegas Visitors and Convention Authority.
Na Europa, a Accor, uma das líderes do setor hoteleiro, registrou uma queda de 25% nas reservas de turistas europeus para o verão americano. A empresa atribui essa diminuição ao impacto negativo das detenções e ao cenário geopolítico desfavorável.
A Delta Air Lines anunciou que não irá expandir suas operações no segundo semestre deste ano, após revisar para baixo as previsões de lucros do primeiro trimestre, citando uma queda nas reservas tanto do turismo de lazer quanto do corporativo, além de uma significativa perda de demanda do Canadá. Por sua vez, a Air France-KLM reduziu tarifas na classe econômica em rotas transatlânticas devido à "leve fraqueza" de mercado, enquanto a Virgin Atlantic menciona uma desaceleração "modesta" na procura por voos entre a Europa e os EUA.
Um relatório da Bloomberg Intelligence sugere que até US$ 20 bilhões em gastos com varejo por parte de turistas internacionais estão ameaçados. Em março, itens relacionados ao turismo, como passagens aéreas, diárias de hotéis e aluguéis de carros, apresentaram queda nos preços, de acordo com o índice de preços ao consumidor dos EUA.
Com informações da Bloomberg, Financial Times e The Guardian.