A guerra comercial desencadeada pela imposição de tarifas pelos Estados Unidos sobre diversos países está se transformando em um verdadeiro embate. Algumas nações, como Canadá e União Europeia, decidiram recuar de suas retaliações após o anúncio de uma pausa nas tarifas por parte do presidente Donald Trump, abrindo espaço para negociações. Em contrapartida, a China continua firme em sua postura de retaliar as tarifas aplicadas às suas exportações.
Nesse contexto, o Brasil pode encontrar oportunidades em seu setor agrícola no mercado chinês. Os Estados Unidos se apresentam como principais concorrentes em pelo menos seis produtos: soja, milho, carne bovina, frango, suínos e algodão. Segundo Marcos Jank, coordenador do centro Insper Agro Global, “os americanos são os maiores ou estão entre os três principais exportadores desses produtos para a China”. Jank pondera que, apesar da previsão de beneficiarem-se, os ganhos não devem se comparar ao que ocorreu em 2017, quando as vendas de grãos para a China dobraram em virtude do aumento das tarifas impostas pelos EUA.
O Brasil, que se tornou o maior fornecedor de grãos para a China durante o “tarifaço” de Trump, pode não conseguir repetir o mesmo sucesso, conforme Jank: “Agora a gente não tem mais como crescer tanto em grãos”. No entanto, o potencial para exportações de carnes é promissor, com a China adquirindo aproximadamente 50% da carne bovina exportada pelo Brasil. Enquanto isso, os Estados Unidos experimentam uma crise nesse segmento, registrando o menor rebanho em mais de 70 anos.
Além disso, há expectativas de que novos mercados se abram para o Brasil quando a pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas dos Estados Unidos chegar ao fim. Jank avalia que as negociações bilaterais previstas podem oferecer maior clareza sobre os fluxos comerciais futuros.
A situação geopolítica e ideológica também desempenha um papel crucial. Jank expressa sua preocupação, afirmando que não seria surpreendente ver Trump conceder facilidades à Argentina, um forte concorrente brasileiro, devido a uma aproximação ideológica entre os dois países. Ele ressalta que outros países com laços mais estreitos com a China podem enfrentar desafios nas negociações com os Estados Unidos.
Em uma análise mais abrangente, Jank compartilha suas perspectivas sobre a guerra comercial, enfatizando que, apesar dos resultados positivos atuais para o Brasil — especialmente em exportações de grãos —, a relação entre China e Estados Unidos poderá se permanecer tensa e complicada. A briga entre as duas potências não mostra sinais de resolução iminente, e a China parece decidida a não se retirar da disputa.
Por fim, Jank considera que o Brasil tem agido com cautela. Para ele, mesmo sem uma aliança ideológica entre o governo Lula e Trump, manter uma postura neutra é vantajoso, especialmente no setor agrícola. O país deve continuar se posicionando como um fornecedor confiável de alimentos para diversos mercados globais.
Em suma, a guerra comercial entre EUA e China continua a influenciar o agronegócio brasileiro, que, enquanto enfrenta desafios, pode encontrar novas oportunidades em um mercado em constante transformação.