A guerra comercial iniciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, está agora focada exclusivamente na China. Em 9 de outubro, Trump anunciou uma pausa de três meses nas tarifas “recíprocas” que haviam sido implementadas poucas horas antes, com exceção de algumas situações, intensificando um confronto que visa transformar as relações comerciais entre as duas maiores economias do mundo.
No dia seguinte, Pequim cumpriu sua promessa ao divulgar novas tarifas retaliatórias. A velocidade com que essa escalada ocorreu é notável. As tarifas impostas por Trump sobre importações chinesas aumentaram de 54% para 104% e agora chega a 125%, somando-se às taxas anteriormente vigentes.
A China respondeu elevando suas tarifas de importação sobre produtos dos EUA de 84% para 125%, como anunciado no dia 11 de outubro. Este confronto acaba por criar uma ruptura histórica, causando sofrimento em ambas as economias, que estão profundamente entrelaçadas, e adicionando tensão à rivalidade geopolítica existente.
Segundo Nick Marro, economista principal para a Ásia na Economist Intelligence Unit, esse desenvolvimento é um forte indício de um possível desacoplamento entre as economias, que poderia resultar em um cenário de comércio e investimento quase inexistentes entre os dois países. “Os choques esperados não afetarão apenas a economia da China, mas também o panorama comercial global e os EUA”, afirmou Marro.
Trump parece ter relacionado sua decisão de não suspender tarifas sobre a China à retaliação rápida de Pequim, afirmando que “a China deseja um acordo, mas não sabe como proceder”. Por sua vez, o presidente chinês, Xi Jinping, que é considerado o líder mais poderoso do país em décadas, não parece disposto a capitular à pressão americana. Xi utiliza uma retórica nacionalista em resposta às tensões, uma estratégia que se intensificou ao longo dos últimos quatro anos.
Negociações e Perspectivas
A China tem manifestado interesse em negociar, mas a rápida escalada das tarifas por Trump reforçou a percepção de que os EUA não estão dispostos a dialogar. Analistas, como Jacob Gunter, do think tank MERICS, afirmam que Xi está se preparando para um longo embate com os EUA e seus aliados. “Xi Jinping está ciente de que a luta começou e que sua nação está preparada para isso”, disse Gunter.
Se Trump teria suspendido as tarifas se a resposta rápida da China não tivesse ocorrido é uma questão em aberto. O Canadá havia respondido com retaliações, mas foi incluído na suspensão das tarifas, sem eliminar uma taxa universal de 10% imposta na semana anterior.
Trump e Xi estão agora em um impasse que pode perturbar uma relação comercial de aproximadamente 500 bilhões de dólares. A China, há anos, é conhecida como o “chão de fábrica do mundo”, sendo responsável por uma vasta gama de produtos que atendem à demanda global, mas também por um déficit comercial significativo que alguns, incluindo Trump, acreditam ter prejudicado a manufatura americana.
Impactos da Guerra Comercial
Com as tarifas superando 125%, estima-se que as exportações da China para os EUA possam ser reduzidas pela metade nos próximos anos. A substituição de produtos chineses pode demorar a acontecer, resultando em um aumento de preços para os consumidores americanos por um período prolongado. A estimativa é que isso possa gerar um impacto fiscal de aproximadamente US$ 860 bilhões antes que novas fábricas estejam operacionais, segundo o JP Morgan.
Na China, uma ampla gama de fornecedores deve enfrentar a eliminação de suas margens de lucro. Victor Shih, diretor do Centro China do Século 21 da Universidade da Califórnia em San Diego, alertou que isso poderá levar a uma “onda de falências” e afetar milhões de trabalhadores. Ao mesmo tempo, as exportações dos EUA para a China podem “chegar próximas a zero”. Segundo Shih, a China tem mais capacidade de suportar a situação do que os políticos americanos.
Os líderes chineses não enfrentam a pressão imediata da opinião pública e têm demonstrado resiliência. Comentaristas do Partido Comunista expressaram que, apesar das tarifas, a China possui estratégias e está disposta a fazer “esforços extraordinários” para estimular o consumo doméstico, que tem estado fraco.
Preparações da China para Conflitos Comerciais
Pequim tem buscado expandir sua cooperação comercial com países da Europa e do Sudeste Asiático, buscando novos aliados e parceiros que estão insatisfeitos com a guerra comercial. Além disso, a China se preparou para esse tipo de conflito, tendo começado a diversificar suas cadeias de suprimentos e fortalecer sua posição em várias indústrias antes do início das agressões comerciais de Trump em 2018.
Atualmente, a China está em uma posição mais forte para enfrentar um conflito comercial, com suas exportações para os EUA caindo de cerca de 20% para menos de 15% do total. Os fabricantes chineses estabeleceram operações em países como Vietnã e Camboja, além de terem investido em tecnologia avançada e atualizado suas capacidades de produção.
Embora as fragilidades da economia chinesa sejam significativas, especialistas como Scott Kennedy, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, afirmam que os EUA não conseguirão, sozinhos, levar a economia da China à beira do colapso. “Quando a China afirma que você não pode contê-la economicamente, há um fundo de verdade nisso”, concluiu Kennedy.