Um princípio fundamental entre jornalistas de negócios é o velho mantra: “siga o dinheiro”. Este conceito torna-se especialmente relevante no atual cenário econômico, com novas tarifas programadas para serem implementadas. O índice Nasdaq Composite está próximo de entrar em território de mercado em baixa pela primeira vez desde 2022, à medida que as empresas se preparam para um aumento repentino nos custos de produtos importados.
Há um intenso debate sobre quais empresas serão mais impactadas por essa situação. No entanto, para aqueles que atuam no universo dos mercados privados, a análise é feita com uma perspectiva mais cautelosa, considerando que os sinais não são favoráveis.
No centro do fluxo de recursos nos mercados privados, pequenas empresas ou startups recebem financiamento de firmas de capital de risco e private equity, que, por sua vez, dependem do capital de sócios limitados (LPs).
Os LPs, que incluem doações, fundos de pensão, fundos soberanos, organizações sem fins lucrativos e escritórios familiares, desempenham um papel crucial nesse ecossistema. Embora frequentemente discretos, os LPs possuem a capacidade de intensificar ou restringir o fluxo de investimentos, influenciando diretamente o mercado privado.
A dinâmica desses investidores é fundamental, pois seus comportamentos em resposta a mudanças econômicas e de mercado podem alterar as condições do setor. Estudos realizados desde a década de 1970 demonstram como os mercados privados são cíclicos e a dificuldade de captar recursos durante períodos de recessão. Por exemplo, em 2001, o financiamento para empresas de capital de risco caiu para cerca de US$ 50 bilhões globalmente, em comparação com US$ 88,4 bilhões em 2000, e sofreu uma queda acentuada para US$ 22,7 bilhões em 2009, segundo dados do PitchBook.
O momento atual é caracterizado por um ciclo notável. Um período de euforia com investimentos em risco, propiciado por mais de uma década de juros baixos, foi seguido por um mercado de baixa em 2022, à medida que as empresas enfrentaram dificuldades em suas projeções pós-pandemia. Apesar do influxo de capital em empresas de Inteligência Artificial, o ecossistema privado sentiu a falta de um componente típico: *ofertas públicas iniciais* (IPOs) e fusões e aquisições. Nos últimos três anos, os LPs não têm recebido distribuições significativas.
Consequentemente, a captação de recursos de capital de risco caiu drasticamente desde 2022, com a maior parte do capital concentrado em um reduzido número de fundos. Dados do PitchBook revelam que, no ano passado, 75% do capital arrecadado por VC foi destinado a apenas 30 empresas, enquanto que apenas nove empresas acumularam metade desse total.
De acordo com uma pesquisa anual da Coller Capital, quase 80% dos LPs afirmaram ter se recusado a reinvestir em pelo menos um dos fundos de capital de risco de seu portfólio ao longo do último ano.
Expectativas para 2023 eram otimistas, com muitos na elite do Vale do Silício antecipando que uma abordagem menos regulatória poderia estimular fusões e aquisições. O aumento no número de IPOs também parecia promissor, mas a estreia da CoreWeave no mercado não atendeu às expectativas; a empresa de data center de IA reduziu o montante que levantou e suas ações sofreram queda desde sua listagem na Nasdaq. Apesar disso, surgiram esperanças de que outras empresas, com balanços financeiros mais robustos, pudessem se sair melhor.
Com a implementação das novas tarifas, o cenário mudou. Investidores e fundadores de startups agora enfrentam a possibilidade real de um mercado em baixa sustentada ou uma recessão. Empresas como Klarna e StubHub já interromperam seus planos de IPO.
Dessa forma, os LPs podem não apenas enfrentar a falta de distribuições desejadas, mas classes de ativos alternativas, como títulos e infraestrutura, podem se tornar mais atrativas, desviando a atenção desses investidores para opções com maior liquidez e menor risco.
Esse momento poderá ser visto no futuro como um mero ponto de inflexão ou o início de uma reavaliação significativa em todo o ecossistema. O tempo e o impacto das tarifas serão decisivos.