Um ano após a tragédia de 2024, que resultou em 183 mortes e deixou Porto Alegre (RS) submersa sob mais de cinco metros de água, o Cais de Mauá reemerge como um espaço vibrante de inovação. O local, que possui um muro projetado para proteger a cidade de enchentes, agora serve como cenário para o South Summit Brazil, um dos principais eventos de tecnologia e empreendedorismo das Américas, realizado entre os dias 9 e 11 de outubro.
O evento atraiu diversos visitantes e empreendedores, muitos deles representando startups que desempenharam papel crucial na recuperação da cidade após as enchentes. Essas empresas têm introduzido soluções inovadoras, como sistemas avançados de monitoramento do nível da água, iniciativas para gestão de resíduos e tecnologias voltadas à prevenção de alagamentos, além de projetos educacionais sobre respostas a desastres.
“As startups foram essenciais para a recuperação da cidade, demonstrando um modelo adaptável que lida com incertezas. Os empresários locais têm uma mentalidade focada em soluções rápidas e práticas”, afirmou David Santos Viega, gestor de projetos de inovação do Sebrae-RS.
Atualmente, o estado do Rio Grande do Sul abriga cerca de 1.800 startups, sendo 15% delas classificadas como greentechs, que se dedicam a iniciativas sustentáveis.
A TideSat Global, fundada em 2022 por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destacou-se ao fornecer um sistema de monitoramento do nível da água que utiliza tecnologia de refletometria GNSS. Essa técnica permite a captação da reflexão de sinais de satélite na superfície da água.

“Nosso sistema é similar ao GPS utilizado em aplicativos de transporte, mas se diferencia ao usar a reflexão de sinais para medir o nível da água. Enquanto as opções tradicionais são caras e muitas delas foram destruídas no desastre, nossa tecnologia se destacou por ser instalada em locais elevados, como postes e prédios”, explicou o CEO da TideSat, Douglas Leipelt.
Durante as enchentes, a empresa registrou mais de 270 mil acessos ao seu dashboard de monitoramento. Seus equipamentos já estão em operação em diversas cidades do Brasil e internacionalmente, incluindo utilização em áreas da Espanha para medir acúmulo de neve.
Gestão do lixo em meio ao caos
A Trashin, outra startup que foi fundamental na recuperação de Porto Alegre, é especializada em gestão de resíduos e logística reversa. Fundada em 2018, a empresa também enfrentou dificuldades devido à tragédia, mas contribuiu significativamente para fazer frente ao caos pós-enchente.

“Aceleramos a limpeza em várias áreas, gerenciando resíduos que não tinham um destino certo. A logística estava em colapso, e também auxiliaremos as autoridades na busca por soluções de descarte adequado”, comentou o CEO da Trashin, Sérgio Finger.
Em Porto Alegre, mais de 40 mil toneladas de resíduos acumulados necessitaram de destinação correta. A Trashin, que começou com seis sócios fundadores, agora é uma sociedade anônima com 38 funcionários e atua com foco na ampliação do impacto ambiental positivo por meio da tecnologia.
O jornalista viajou a Porto Alegre a convite do MB Startups.