O comércio entre EUA e China, as duas maiores economias do mundo, enfrenta uma crise sem precedentes. Atualmente, as tarifas dos Estados Unidos sobre produtos chineses atingem 145%, enquanto as tarifas da China sobre itens norte-americanos estão em 125%. Esses valores representam apenas os índices básicos, desconsiderando tarifas adicionais que incidem sobre categorias específicas como aço e produtos agrícolas.
Yeling Tan, professora de políticas públicas na Universidade de Oxford, afirma que “as taxas de tarifas estão tão elevadas que se tornam proibitivas para a maioria do comércio bilateral direto”. O ministério das Finanças da China já reconheceu a inviabilidade dos produtos americanos, declarando que, com as tarifas atuais, esses produtos não são comerciáveis no país. Em resposta a novas tarifas dos EUA, Pequim informou que ignorará possíveis aumentos nas tarifas sobre as exportações chinesas.
Este contexto de tarifas elevadas está rapidamente desmanchando uma relação comercial que antes era próxima. Produtos que vão desde móveis de jardim a smartphones, que costumavam integrar as prateleiras americanas, agora enfrentam barreiras quase intransponíveis.
Apesar das dificuldades, tanto Washington quanto Pequim demonstraram disposição para negociar, embora neste momento não existam diálogos diretos em curso. Cada parte acredita que a outra deve iniciar as conversas; relatórios indicam que os EUA exigiram que a China solicitasse um contato com Donald Trump, em vez de fazer uma aproximação direta.
No entanto, sinais sugerem que os EUA estão reconsiderando sua postura em relação às tarifas. Recentemente, a Casa Branca isentou produtos eletrônicos, como smartphones e laptops, das tarifas impostas, uma tentativa de mitigar o impacto econômico.
Tarifas e comércio
Dados do Escritório do Censo dos EUA mostram que, em 2024, o país importou US$ 438 bilhões em bens da China, enquanto as exportações para o gigante asiático totalizaram apenas US$ 143,5 bilhões. A tarifa de 145% imposta por Trump é apenas a base, com taxas adicionais de 25% sobre produtos de aço e alumínio, além da ameaça de novas tarifas sobre países que utilizem petróleo venezuelano, afetando também a China.
A China, por sua vez, também implementou tarifas adicionais sobre produtos norte-americanos, incluindo maquinário e produtos agrícolas. Recentemente, autoridades chinesas indicaram que reduzirão o número de filmes americanos licenciados para exibição em seu território, como parte das medidas de retaliação.
Se a situação continuar, é provável que empresas tanto nos EUA quanto na China busquem alternativas para a manufatura em países como Vietnã, Índia e México. No entanto, os críticos da estratégia “China mais um” argumentam que tarifas altas também foram impostas sobre esses países, dificultando sua inclusão na cadeia de suprimentos.
O Vietnã está sendo pressionado a restringir produtos chineses que transitam por seu território, em meio às negociações tarifárias dos EUA, segundo informações da Reuters. Contudo, o risco de um impasse permanece, e as tarifas podem ser reimpostas se um acordo não for alcançado.
A resistência da China
Funcionários da administração Trump afirmam que a China é mais suscetível a uma guerra comercial, uma vez que a economia chinesa depende fortemente do consumo americano. Contudo, a recente queda nas exportações da China para os EUA, que agora representam menos de 15% do total, indica uma diversificação em seus parceiros comerciais, como Brasil e Austrália.
A China está se posicionando de forma mais assertiva em sua disputa comercial, afirmando um compromisso de “lutar até o fim” se os EUA continuarem a escalar as tensões. Economistas projetam que, apesar da pressão, a economia chinesa poderá resistir a uma guerra comercial prolongada.
Embora alguns estudiosos acreditem que a guerra comercial tenha reconfigurado as relações econômicas entre os dois países, a realidade é que a interdependência continua a ser uma força poderosa. Sinais de que a administração Biden manteve as tarifas e implementou novas restrições ao setor tecnológico da China sugerem que a competição entre as duas nações é, de fato, uma continuidade de estratégias anteriores.
Acordo ou nenhum acordo?
A maioria dos economistas concorda que um rompimento total entre EUA e China causaria grandes dificuldades em ambas as economias. Tarifas acima de 100% seriam “absolutamente punitivas”, afetando diretamente empresas que podem não sobreviver a esse cenário. Por isso, é provável que eventualidades forcem uma redução das tarifas, mas provavelmente em níveis que ainda seriam considerados elevados em comparação com os padrões anteriores.
Um mundo onde EUA e China não conseguem dialogar pode ser caracterizado por maior volatilidade e risco de conflito, com impactos profundos para empresas e consumidores de ambas as nações. Isso levanta a questão sobre o futuro das relações comerciais e a capacidade das duas potências em encontrar um ponto de equilíbrio.
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