Washington – As principais empresas de tecnologia e seus líderes financeiros doaram milhões de dólares para a posse do presidente Donald Trump, além de organizarem festas e eventos em sua homenagem. No entanto, menos de três meses após o início de seu segundo mandato, Trump não retribuiu esses gestos com benefícios significativos. As tarifas recentes impostas pelo presidente têm o potencial de afetar gravemente a cadeia de suprimentos de produtos como o iPhone da Apple (AAPL34) e aumentar os custos para empresas como Amazon (AMZO34), Meta (M1TA34), Google (GOGL34) e Microsoft (MSFT34) em seus projetos de inteligência artificial.
Além disso, o presidente diminuiu o financiamento federal para pesquisa em tecnologias emergentes, como inteligência artificial e computação quântica, e suas políticas restritivas de imigração levantaram preocupações sobre o acesso a talentos na área de tecnologia.
O governo Trump indicou que manterá uma abordagem regulatória rigorosa visando o setor de tecnologia, com um julgamento antitruste programado para a próxima semana, que pode levar ao desmembramento da Meta, controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp.
Desde a posse de Trump, o valor de mercado combinado das cinco principais empresas de tecnologia — Amazon, Apple, Google, Meta e Microsoft — caiu 22%, totalizando aproximadamente US$ 10 trilhões. O índice Nasdaq, voltado para tecnologia, também sofreu uma queda de 21%.
Relações Desiguais
A relação da indústria de tecnologia com Trump evoluiu desde a hostilidade observada durante seu primeiro mandato, quando muitos executivos expressaram apoio à campanha de Hillary Clinton em 2016 e criticaram as políticas de imigração de Trump. Com uma nova estratégia, que envolve mais bajulação, os líderes do setor esperavam uma maior colaboração do presidente em questões relacionadas a regulamentação de setores como energia e automóveis.
Contudo, essa abordagem parece ser interpretada como inadequada, conforme afirmam especialistas em políticas. Gigi Sohn, ex-conselheira da Comissão Federal de Comunicações, descreveu a relação como uma “via de mão única”, em que as empresas oferecem apoio sem receber promessas em troca.
No último mês, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, visitou a Casa Branca na tentativa de negociar a resolução de um processo antitruste contra a empresa. Outros líderes do setor, como Sundar Pichai, CEO do Google, também têm se reunido com autoridades. As empresas alegam que desejam se envolver mais em discussões sobre políticas, embora Apple, Google, Meta e Amazon não tenham comentado a situação. A Casa Branca não se pronunciou sobre os pedidos de entrevistas.
Evolução da Hostilidade ao Apoio
A tensão entre a indústria de tecnologia e Trump remonta a 2016, quando executivos expressaram descontentamento com sua administração. As críticas se intensificaram com a proibição de imigração e a hesitação do presidente em relação a vacinas para Covid-19. O primeiro mandato de Trump foi marcado por ações antitruste contra gigantes do setor, além de críticas à forma como as plataformas midiáticas influenciaram sua derrota em 2020.
No entanto, o tom das interações começou a mudar drasticamente após um incidente de tentativa de assassinato contra Trump, quando executivos como Zuckerberg e Bezos começaram a elogiar sua resiliência. Cita-se até mesmo que, durante a posse, líderes da tecnologia como Musk, Bezos, Zuckerberg e Cook estiveram lado a lado com membros do novo governo.
Como resultado, algumas empresas agora se beneficiam de sua proximidade com Trump. O CEO da SpaceX e da Tesla, Elon Musk, tornou-se conselheiro próximo e Trump optou por adiar a proibição do TikTok, mesmo com as preocupações sobre sua empresa-mãe, a ByteDance. Contudo, o presidente tem adotado uma postura crítica em relação ao financiamento federal e a regulamentações de inteligência artificial, que ele considera prioridade na corrida tecnológica contra a China.
Ainda assim, as empresas de tecnologia enfrentam pressões contínuas sob a administração Trump, com novas nomeações em órgãos como o Departamento de Justiça e a FTC não indicando um recuo nas ações antitruste contra Google, Meta, Amazon e Apple.
Este artigo foi originalmente publicado pelo The New York Times.
c.2025 The New York Times Company