Inteligência Artificial Revoluciona Diagnóstico de Lesões Cerebrais Ocultas em Crianças com Epilepsia

Pesquisadores australianos deram um passo significativo na medicina ao desenvolverem uma ferramenta de inteligência artificial (IA) capaz de identificar lesões cerebrais pequenas em crianças com epilepsia. O estudo, publicado na revista Epilepsia, revela que tais lesões frequentemente não são detectadas em exames tradicionais de ressonância magnética, dificultando diagnósticos e tratamentos. A aplicação desta tecnologia promete acelerar diagnósticos e proporcionar cirurgias mais precisas, oferecendo renovada esperança para pacientes que enfrentam crises de epilepsia de difícil controle.
A epilepsia é uma condição que afeta aproximadamente uma em cada 200 crianças, sendo que cerca de um terço desses casos não responde aos tratamentos medicamentosos convencionais. As causas subjacentes muitas vezes envolvem displasias corticais, que são pequenas anomalias no cérebro responsáveis por desencadear as crises epilépticas. A descoberta e tratamento precoce dessas lesões são cruciais. No entanto, devido ao fato de que até 80% das ressonâncias magnéticas não revelam essas alterações, o caminho até a intervenção cirúrgica se torna prolongado e complexo.
O sistema de IA desenvolvido pelo Murdoch Children’s Research Institute (MCRI) e pelo Royal Children’s Hospital em Melbourne atua como um “detetive digital”. Ele analisa imagens de ressonância magnética em busca de áreas suspeitas no cérebro, destacando-as para uma análise mais aprofundada por parte de médicos e radiologistas. Assim, o tempo necessário entre o surgimento dos sintomas e a definição de um tratamento cirúrgico pode ser consideravelmente reduzido, proporcionando melhores resultados para os pacientes.
Os primeiros testes do sistema de IA envolveram 71 crianças e 23 adultos com epilepsia focal. Os resultados preliminares são promissores: a IA foi capaz de detectar lesões que anteriormente não haviam sido identificadas. Entre as crianças avaliadas, 12 passaram por cirurgias e 11 delas não experimentam mais crises epilépticas, demonstrando uma taxa de sucesso significativa. O caso de John, um menino de 11 anos que sofria de múltiplas convulsões diárias, destaca o impacto do uso da tecnologia. Após a cirurgia guiada pela IA, ele recuperou a qualidade de vida, sem mais crises.
Ainda assim, os especialistas ressaltam que a IA não substitui a análise humana, mas sim a complementa. O objetivo agora é expandir o uso desta tecnologia para hospitais pediátricos em diferentes localidades, visando testar sua eficácia clínica e avaliar a percepção de pais, crianças e médicos sobre a introdução da inteligência artificial no diagnóstico de epilepsia resistente a medicamentos.
O avanço com esta pesquisa abre possibilidades para que um maior número de crianças tenha acesso a diagnósticos rápidos e a intervenções cirúrgicas potencialmente curativas. Conforme a tecnologia avança, espera-se que mais casos possam ser tratados com precisão, melhorando significativamente as perspectivas de vida de muitas crianças afetadas pela epilepsia.